Egópolis
(carta íntima)
Egópolis, 00 ad aeternum 0000.
Ao
Exmo. e Ilmo. Mr. Imo by Myself
Praça Each Other, s/ no.
N e s t a
Ref.: Enlace Psiquiálgico
Prezado Senhor:
Na qualidade de vossa imemorial persona, e sob a égide dos laços e nós que nos amarram a tão harmônica familiaridade, passo a expor-vos o que segue.
Ao parar para pensar como escrevê-las, estive quase desistindo de enviar-vos estas linhas (para que servem as cartas?). Mas adotada uma estética tão formal, achei por bem conceber a exposição e enviá-la sem pensar em tais parênteses – mesmo não estando muito certo do que pretendo expor.
Na verdade os nossos laços parecem indicar-me uma intenção mais de ouvir-vos – nem que seja só um esboço de vosso silêncio ouvinte.
Peço-vos, pois, que dignai-vos alcançar o que ora penso; ainda que meus pensamentos insistam em revelar-se deste jeito confuso, que eu não sei, nem nunca saberei, como evitar.
Assim, exempli gratia, perguntai-me algo que meu pensamento ainda alcance (já que eu não alcanço sequer as perguntas que pretendia fazer-vos).
Isso talvez revigore a voz deste meu surdo silêncio.
E se manifesto-me destarte é porque, como bem sabeis, nada sei do que sou, além do que soube aquele Sócrates sobre si – é porque, tal qual vosso vazio correspondente, prefiro corresponder-me destinando-vos este nada, a enfrentar nossa cicuta.
Vosso ombro de leitor, que co-responde-me, talvez me dê o consolo que os nós e laços nos negam.
De todo modo o sofrimento, que este enlace tanto aperta, pode ainda afrouxar-se na costura de outras linhas. Pode destarte traçar-me menos normal do que vós – o que (não vos ofendais) obriga-me a lembrar-vos desde logo, que o grau de minha loucura é o mesmo que enlouquece-vos há tanto ou mais tempo, e ainda haverá de nos servir como moeda de troca em futuras relações bilaterais.
Por ora, sendo o que me cumpre na psiquialgia dos laços, peço-vos licença para – aguardando vossa resposta, que não virá –:
Cordialmente,
sequer assinar esta
E. T.: Com o perdão dos demais egos, a psiquialgia da missiva quis referir-vos tão-somente à algia que nos une.
(carta íntima)
Egópolis, 00 ad aeternum 0000.
Ao
Exmo. e Ilmo. Mr. Imo by Myself
Praça Each Other, s/ no.
N e s t a
Ref.: Enlace Psiquiálgico
Prezado Senhor:
Na qualidade de vossa imemorial persona, e sob a égide dos laços e nós que nos amarram a tão harmônica familiaridade, passo a expor-vos o que segue.
Ao parar para pensar como escrevê-las, estive quase desistindo de enviar-vos estas linhas (para que servem as cartas?). Mas adotada uma estética tão formal, achei por bem conceber a exposição e enviá-la sem pensar em tais parênteses – mesmo não estando muito certo do que pretendo expor.
Na verdade os nossos laços parecem indicar-me uma intenção mais de ouvir-vos – nem que seja só um esboço de vosso silêncio ouvinte.
Peço-vos, pois, que dignai-vos alcançar o que ora penso; ainda que meus pensamentos insistam em revelar-se deste jeito confuso, que eu não sei, nem nunca saberei, como evitar.
Assim, exempli gratia, perguntai-me algo que meu pensamento ainda alcance (já que eu não alcanço sequer as perguntas que pretendia fazer-vos).
Isso talvez revigore a voz deste meu surdo silêncio.
E se manifesto-me destarte é porque, como bem sabeis, nada sei do que sou, além do que soube aquele Sócrates sobre si – é porque, tal qual vosso vazio correspondente, prefiro corresponder-me destinando-vos este nada, a enfrentar nossa cicuta.
Vosso ombro de leitor, que co-responde-me, talvez me dê o consolo que os nós e laços nos negam.
De todo modo o sofrimento, que este enlace tanto aperta, pode ainda afrouxar-se na costura de outras linhas. Pode destarte traçar-me menos normal do que vós – o que (não vos ofendais) obriga-me a lembrar-vos desde logo, que o grau de minha loucura é o mesmo que enlouquece-vos há tanto ou mais tempo, e ainda haverá de nos servir como moeda de troca em futuras relações bilaterais.
Por ora, sendo o que me cumpre na psiquialgia dos laços, peço-vos licença para – aguardando vossa resposta, que não virá –:
Cordialmente,
sequer assinar esta
E. T.: Com o perdão dos demais egos, a psiquialgia da missiva quis referir-vos tão-somente à algia que nos une.