Com celeridade ao senhor do vazio.
Salvador, 17 de dezembro de 2023.
Caro Oblívio,
Senhor do fim vos escrevo na esperança de que vós, que sois o fim certo de tudo o que existe, possa findar a minha dor proveniente de uma obsessão desmedida.
Tudo se iniciou em um curso técnico que fiz numa instituição do Sistema S. Lá conheci duas pessoas maravilhosas por quem me apaixonei ao decorrer do curso, entretanto, por conta de minha timidez muito acentuada, jamais falei de meus sentimentos para essas pessoas. Com o tempo fui criando laços afetivos e de amizade com eles que seriam perdidos em alguns anos. No fim, sempre tive uma propensão natural para amores platônicos.
Muito tempo depois do curso, tomei coragem para revelar os meus sentimentos para um deles e nesse ínterim descobri coisas que me surpreenderam. Primeiramente descobri que por de trás da figura de bom moço, doce, educado e gentil se escondia uma puta libertina. Não que isso fosse errado, mas tal descoberta anulou todo ar romântico dele. Em seguida, ainda interagindo com ele, descobri que ele e o outro de quem eu gostava estiveram envolvidos em um relacionamento puramente sexual. Nesse momento fiquei estarrecido, mas o pior estava por vir. E finalmente veio a descoberta que me implodiria, pois descobri que um deles a partir de um descuido meu ao deixar meu e-mail aberto na biblioteca, invadiu a minha privacidade ao entrar no Drive e expor para o outro minhas intimidades.
Desse momento em diante, o amor se tornou ódio, ojeriza e obsessão. Fingi muito bem não me importar com todas as descobertas, sobretudo com a violação de minha intimidade. Continuei a interagir com ele na esperança de ter os sentimentos correspondidos, não serei hipócrita em dizer que ele despertava um frisson sexual em mim, porém eu sempre valorizo mais a afetividade que o sexo sem si e por isso não me custou perceber que o seu interesse em mim era puramente sexual e pior, em segundo plano, pois sempre queria me incluir no sexo com alguma outra pessoa. Isso pode ser aprazível para muitas pessoas, porém para mim era um sacrilégio.
Por um longo tempo excluí ambos de minha vida. Os bloqueei em minhas redes sociais e ilusoriamente acreditei que os esqueceria por completo. Contudo, hoje, me encontro estalqueando um deles e não só isso, como também ressuscitei e tenho alimentado uma mágoa colossal por ele e detesto a cada um de seus parceiros.
Somente essa tela rachada de smartphone sabe quantas vezes jurei não ir atrás dele e sempre sucumbi miseravelmente a espiar e alimentar essa obsessão tóxica que me leva a odiar pessoas inocentes.
Não quero perder-me nesse oceano de mágoa, rancor e ódio. Portanto, meu grande senhor do esquecimento perpétuo, devorador de tudo que há, imploro que devores minha obsessão antes que ela me conduza a perdição.
Francisco. G. B.