Felicidade depois de ti
Ainda estou na fase do rancor.
Já passei pelas fases da decepção, da tristeza, da raiva e agora estou na fase do rancor e em breve, ao sair deste lugar, estarei na fase definitiva, a da indiferença por ti. Sim, porque não é de outro modo que devo me sentir em relação à ti.
Te ofereci o amor mais profundo da minha alma, te cuidei como ninguém na sua vida jamais fez e eu tenho certeza de que jamais fará. Te proporcionei segurança, proteção, companhia, parceria, cumplicidade. Fui teu apoio em todos os momentos que precisastes.
Quando fostes à UPA com a baby, quando tu fostes à UPA com crise de asma, quando fostes à UPA para carregar o celular no blackout da cidade após as chuvas, sempre estive contigo, mesmo à distância, sempre segurando tua mão, te dando forças, te fazendo sorrir, te desejando o melhor, te fazendo se sentir bem. Nenhum de seus ex foi capaz de se doar a esse ponto, não porque não pudessem, mas porque não quiseram. E tu, aprendestes com eles a não querer quem te faça bem, quem te trate bem, quem te valorize, quem te coloque para frente, quem acredite em ti. Não é isto que queres para ti.
Te acostumastes com quem não lhe trata com dignidade, com quem não enxerga o teu interior, com quem não te considera importante, com quem não te trata como prioridade. É a estes que devotas teu interesse.
Quando esgotei minhas forças físicas, mentais e emocionais de seguir nesse processo, no "teu processo", aceitando migalhas de afeto, pouco interesse, quase nenhuma disponibilidade, tratamento aleatório, cada vez mais empurrado para a friend zone, como se tudo que eu fizesse por ti não fosse um ato de amor, mas algo "costumeiro", uma "obrigação", algo sem tanto valor porque virou rotina de benefícios para ti. Quando abri os olhos quanto a estar me reduzindo para caber no teu mínimo espaço para mim, na esperança do futuro com o qual me acenavas cada vez mais distante, mesmo frente a tua própria recusa em fazer planos comigo, em construir sonhos comigo, em levar o relacionamento como uma "ficada efêmera, temporária e sem raízes". Quando tudo isso me corroeu por dentro, me gerou insatisfação e me fez com que te cobrasse uma posição, uma resposta honesta, o que fizestes? Justificastes seu não comprometimento com motivos religiosos e abristes a porta para que de tua vida eu me retirasse mais rápido, todavia, mantendo certas obrigações.
O que eu poderia pensar de ti depois disso?
As obrigações que teus ex, pais de tuas filhas não tiveram com elas e nem contigo e eu, sem ter nenhum laço consanguíneo, ainda mantive, por amor a ti e a elas, e mesmo assim, ainda me vês como alguém que te vitimou? E pior, me comparas a eles? Te fazes de vítima, como se eu a tivesse abandonado por egoísmo? Eu não te abandonei, tu é quem nunca me quis.
É egoísmo meu querer ser também amado, querer reciprocidade, querer carinho e dedicação na mesma medida em que oferto? Sabes o quão difícil era receber falas tuas como "eu te amo, do meu jeito", "eu não posso te amar como você quer", "eu não sou a pessoa perfeita para você", "Deus é meu único amor real e por causa dele não posso te amar, tenho que fazer sacrifícios"? Como assim?
Sabes o quanto eu aguentei em silêncio, com uma dor imensa me transpassando a alma e o coração? Aceitando qualquer coisa que me oferecestes com medo de te perder? E tu, não tivestes em nenhum momento medo de perder a mim, porque de fato nunca me quis. Fui um laboratório com benefícios para ti e isso foi conveniente.
Sim, eu escolhi ir embora diante da tua frieza, diante do teu não querer, diante do teu desamor, diante da tua desvalorização. Fui e lhe deixei uma conta bancária, um plano de saúde, compras, tudo o que te eras necessário e ainda assim não me vês com bons olhos e sequer com gratidão.
Mas esse rancor irá passar e em breve, tu serás uma fotografia amarelada na estante das minhas memórias. E eu sei que te lembrarás de mim:
quando fores usar o inalador que te enviei quando tivestes aquela terrível crise de asma;
quando adentrar em uma farmácia e lembrar-te dos medicamentos que te enviei várias vezes;
quando o salário terminar antes do meio do mês e não houver a minha ajuda para complementar as compras;
quando bater a fome no final de semana e não tiver mais os meus envios dos lanches que escolhias no Ifood;
quando for esquentar o pão da baby e lembrar que a sanduicheira foi um presente meu;
quando precisares pedir um Uber e lembrar que eu cobria a maior parte de tuas viagens, principalmente as mais longínquas;
quando emitires o boleto do plano de saúde e lembrar que ele só existe porque eu estive na tua vida e continuo mantendo-o;
quando estiveres aflita e sem ter a quem recorrer e lembrar que em momento algum te neguei ajuda e presença;
quando voltares para o Apps de relacionamento e os varões de Deus na tua vida voltarem a te querer somente pela carne;
quando estes mesmos varões não se preocuparem com teu prazer, somente com o deles e ainda a machucarem;
quando estes mesmos varões não quiserem assumir a ti ou tuas filhas, alegando que és apenas um "caso";
quando estes mesmos varões revelarem que são casados, noivos, namorados de outras pessoas e tu és um passatempo;
quando a idade bater à tua porta e nem mesmo estes varões quiserem deitar em tua cama ou te enganar mais;
quando pensar que poderias ter ido a faculdade e terias todo o meu apoio;
que poderias ter te tornado completamente independente financeiramente e profissionalmente e terias a minha ajuda;
que poderias deixar os serviços pesados para assumir um outro mais leve e menos agressivo à tua saúde como eu te instruía;
em todos estes momentos, lembrarás que a pessoa, a única pessoa que te quis com todas a forças, com todo o desprendimento financeiro e emocional, tu não quisestes amar.
Fizestes uma escolha e eu fiz a minha.
Estou em outra geografia, tenho uma vida bem distinta da tua.
Irei viajar, conhecer novos lugares, novas pessoas e tu serás apenas passado.
Então, se algum dia te arrependeres com sinceridade e quiseres me procurar...
Não o faças. Viva a tua vida com as escolhas que fizeste.
Aprendi à duras expensas a não ser mais o teu estepe.
Aprendi à dores imensas a não ser mais o teu prêmio de consolação.
Aprendi a entender que eu mereço mais do que a poça d'água que me oferecestes.
Aprendi que eu mereço alguém que me veja como uma pessoa muito especial e imperdível.
Aprendi que eu mereço alguém que se sinta feliz em planejar uma vida estável comigo.
Aprendi que eu mereço alguém que tenha respeito pelos meus sentimentos.
Aprendi que eu mereço alguém que queria mergulhar no meu oceano e me oferecer profundidade.
E este alguém nunca foi e nunca será tu.
Tivestes a tua chance, mas a jogastes pela janela quando não me pediu para ficar.
Se tens que te esforçar arduamente para me amar, eu dispenso este tipo de amor não verdadeiro.
Continue em tua ilusão e encontre tua felicidade nela.
Eu serei feliz sem ti, eu serei feliz apesar de ti, eu serei feliz depois de ti.