A energia que você deixou para nós

Este dia chegou sem um aviso prévio. Sem um anúncio propriamente dito. Sem uma apropriada preparação emocional dos nossos pensamentos, reações e das nossas existências para tal fato. Mas ele chegou. O mesmo vento que te trouxe, também foi o mesmo vento que te levou embora. Ele não liga para gente, não se importa com os nossos sentimentos, e nem vai se importar com eles num futuro, seja ele distante, seja ele próximo, pois esse vento apenas existe. Uma força da natureza desprovida de culpa e arrependimentos. Apenas executa, sem questionamentos, sem impedimentos, sem dúvidas, sem arrependimentos.

É difícil te ver agora. Parada, quieta, silenciosa, de olhos fechados… dormindo. Um último sono, um sono eterno. Um sono sem sonhos, no qual tudo que você vê, sente, saboreia e ouve é a eterna e silenciosa escuridão. Ou talvez seja um eterno caminhar por um deserto escuro. Sem ninguém para te acompanhar a não ser os gelados ventos soprados em suas costas. Apenas um deserto plano, com um horizonte misturado com o céu negro, sem limites claros entre céu e terra. Ou até mesmo um persistir da funcionalidade dos seus sentidos. Um castigo, sentenciada a experimentar todas as sensações sentidas pela sua casca vazia, pelo resto da eternidade.

Mas não importa muito agora. O que importa agora é lamentar que haverá um vácuo onde antes ficava sua presença. Silêncio onde ficava sua voz. Frio onde antes ficava seu toque. Tristeza onde antes ficava a alegria transmitida por você. Não teremos mais tudo isso. Não teremos mais você.

Vemos muitas pessoas se preocupando em deixar um legado, por meio de filhos, nomes estampados em pedra e metal e grandes feitos. Mas você é mais simples, sutil e impactante. Você liberou sua energia para nós e a deixou com a gente. Cada palavrinha sua, cada presente, cada gesto, cada ação, cada momento na sua companhia… Tudo isso tinha o seu jeitinho. Tinha sua magia. Tinha seu farelo brilhante de vitalidade. Tinha sua energia.

Não era algo como a energia de outras pessoas. Uma vez liberada, nunca era cultivada, e então esquecida. Não, você era melhor do que isso. Você fazia questão de regar, iluminar e cuidar do pedaço de energia que deixou conosco. Cuidou bem dele, de cada um deles, para sempre lembrarmos de você, sempre admiramos você e sempre cuidarmos de você.

Com o tempo, além de ficar guardado dentro de nós, assimilamos ele. Nossas frases adotaram algumas de suas palavras. Nossas ações tinham uma parte da sua assinatura. Nossos gestos de bondade tinham um pouco da sua. Integramos um pouco da sua vida nas nossas, e não poderíamos estar mais felizes por isso.

E agora, você se foi. Você não vai mais cuidar dos seus pedacinhos de energia que deixou conosco, infelizmente.

Mas nós podemos. Podemos cuidar deles, cultivá-los e iluminá-los com o mesmo carinho que dedicou a eles. Celebraremos a sua vida, a pessoa que você era, o valor e o significado que um dia você teve para nós. Manteremos sua energia viva, e sempre acesa.

Compartilharemos um pouco da sua energia com outras pessoas. Assim, não somente elas poderão te conhecer mesmo depois da sua partida, como elas também serão agraciadas com sua energia.

Quando o momento de nossas próprias partidas chegar, partiremos com um sorriso no rosto. Sorriremos, pois teremos te mantido viva com todos os nossos esforços, no maior número possível de corações, com energias pequenas, porém fortes e vivas. Nossas próprias energias podem estar ausentes nos corações delas, contribuindo para nossos esquecimentos, mas a sua estará presente, e é isso o que importa.

Você viverá para sempre. Te amaremos para sempre. Sempre haverá alguém para se lembrar de você todos os dias.

Caio Lebal Peixoto (Poeta da Areia)
Enviado por Caio Lebal Peixoto (Poeta da Areia) em 12/12/2023
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