ESPECIALMENTE PARA VOCÊ
ESPECIALMENTE PARA VOCÊ
CONSCIÊNCIA E HUMILDADE
(Ivone Carvalho)
Dentre as inúmeras mensagens que recebemos nesta época do ano, quando comemoramos o nascimento do Menino Jesus e, logo em seguida, a chegada de um novo ano, nos deparamos com os conselhos e propósitos que se avolumam, visando mudanças no modo de ser e agir, em busca de uma vida melhor para os nossos irmãos e para nós mesmos.
Dentre elas, alguém me sugeriu aproveitar o Natal para abraçar uma criança abandonada, beijar um idoso abrigado em asilo ou dar força a algum doente, além de refletir sobre o que fiz ou deixei de fazer e perdoar se fui ofendida, finalizando sua mensagem me informando que se eu fizer isso o meu ano será maravilhoso.
Sempre peço desculpas aos meus amigos por demorar muito para responder suas mensagens, deixando, muitas vezes, de respondê-las, porque tenho um defeito muito grande que até hoje não consegui corrigir: não sei escrever pouco. Talvez pelo fato de falar muito, como a maioria das mulheres (embora eu conheça muitos homens que bronzeiam a língua bem mais que as mulheres), ou em razão do exercício da profissão (que, por natureza, me obriga a escrever e falar constantemente) ou mesmo pelo amor à literatura, já que não sei ficar longe de um editor de texto ou, se impossível, de uma caneta e um pedaço de papel, para expor as bobagens que vão surgindo na minha mente ou que saem da minha alma.
Entretanto, foi quase que automática a minha resposta à pessoa que me enviou a mensagem supra mencionada. Embora agradecendo a retribuição aos meus votos de um Feliz Natal, não pude deixar de expor, mais uma vez, os meus pensamentos a respeito da sugestão apresentada.
Por que devemos esperar o dia de Natal para abraçar uma criança abandonada ou carente, ou beijar um velhinho abandonado em asilo ou nas ruas, ou praticar a caridade junto aos doentes que tanto necessitam de nós para o seu conforto espiritual?
Isso tudo deve ser praticado o ano todo e todos nós sabemos disso!
Certamente, por não me conhecer e por não conhecer a minha vida, a minha forma de pensar e agir, ele não sabe do trabalho que, graças a Deus, eu faço junto às comunidades carentes e nas escolas onde cuido de crianças, jovens e mães. Que reservo, também, além de algumas horas semanais nesse trabalho, mais uma hora da minha noite, diariamente, para fazer enxovais de bebês para essas famílias. Contei-lhe que sempre gostei muito de fazer tricô e crochê, mas talvez nunca tenha sentido o prazer que sinto nos últimos anos, por saber que estou colocando no meu trabalho a minha energia e a minha vibração que será levada aos recém-nascidos de famílias carentes. Só me lembro de ter sentido algo parecido quando tricotei os enxovais das minhas filhas.
E não lhe contei tudo isso, tampouco o faço aqui, para me vangloriar de qualquer coisa, pois acredito que tudo que podemos fazer pelos nossos irmãos deve permanecer no anonimato, já que não buscamos medalhas, reconhecimento, agradecimento ou qualquer coisa do tipo. O que fazemos por alguém, com amor,e em nome do Amor que Jesus nos ensinou, faz um bem danado a nós mesmos!
O melhor que alguém pode fazer por si mesmo, é se doar aos que necessitam, sejam crianças, adultos, velhinhos e doentes que, tantas vezes, um abraço ou uma palavra retira, como se tirássemos com as mãos, a dor, a tristeza, o sofrimento.
Existe sorriso mais confortante à nossa alma do que aquele que vemos (ou recebemos) no rosto de alguém que não teve a mesma sorte que nós e que tanto precisava desse abraço ou dessa palavra?
Quantos abraços, beijos, carinhos e quanto amor já oferecemos ou demos a quem não queria ou não deu qualquer valor a tudo isso e que, ao contrário do que damos quando praticamos a caridade, nos sentiríamos mais felizes se nossa dedicação e amor fosse, pelo menos, reconhecidos através de uma sincera amizade ou do companheirismo e do respeito?
Quem tem muito não conhece, de verdade, o valor do pouco que é tanto para quem nada tem?
Pois é, todos deveriam deixar de fazer promessas para começar a fazer e praticar a caridade no ano seguinte. A hora sempre foi agora! E, como tão bem diz a música, quem sabe faz a hora, não espera acontecer, não é mesmo?
Sou muito feliz e agradecida a Deus por tudo que faço por quem precisa. Gostaria, sim, de fazer muito mais, mas o dia tem apenas vinte e quatro horas!
Nessas pessoas, de qualquer idade, encontro sempre a sinceridade, o carinho e o amor que costumamos esperar em outras pessoas que não sabem ou não conhecem o verdadeiro valor de tantas coisas, mas que têm tudo na vida para saberem pelo menos isso!
Se as pessoas soubessem o quanto é gratificante e o quanto nos sentimos mais pertinho de Jesus quando nos doamos, qualquer que seja a forma de doação (trabalho, orações, educação, ensino, bens materiais imprescindíveis a uma vida menos dura, carinho, um abraço, um beijo, um afago nos cabelos) e o quanto isso tudo nos faz felizes, creio que ninguém esperaria o Dia de Natal ou o início de um novo ano para começar a colocar em prática aquilo que é fácil demais dizer e aconselhar e que não é nada difícil praticar.
Não precisamos ser ricos de bens materiais, tampouco termos a vida financeira estável. Sabemos o quanto isso tudo é difícil nos nossos tempos. Mas não precisamos despender dinheiro, se não tivermos, para darmos muito a quem pouco ou nada tem.
Quanto custa um abraço? Quanto custa um beijo, uma palavra de afeto, a leitura de algum livro ou mensagem que massageie o coração de alguém? Qual de nós não precisa disso tudo? Qual de nós não se sente mais vivo e mais confiante quando se sente lembrado, acarinhado, respeitado como ser humano?
Talvez eu tenha perdido um contato virtual, embora raro, mas de muitos anos, ao responder tudo isso numa mensagem que talvez estivesse eivada de boas intenções, mas, como dizem por aí, de boas intenções o inferno está cheio! No entanto, é hora de colocar em prática o que se aconselha e acho que eu já passei da idade de ouvir conselhos de quem não faz o que sugere em nome da dignidade, da fraternidade, do amor, da paz.
As palavras brotam com facilidade, principalmente de quem pretende mostrar ser o que não é. E, isso, nós vemos em todos os momentos, em todo lugar!
É hora de olharmos no espelho que se encontra dentro de nós e perguntarmos se estamos praticando os nossos próprios conselhos.
E, no final de cada ano, avaliarmos se poderíamos ter feito mais e não fizemos. Com toda certeza o nosso balanço será sempre deficitário, porque recebemos tanto, tantas Graças Divinas, que, sem dúvida alguma, deveríamos sim nos doar muito mais do que nos doamos.
Que todos os novos anos sejam anos de muito mais Consciência e Humildade!
SP, 27/12/2007