MINICARTA DE UM LEITOR AO ESPÍRITO DO "POETA MÚLTIPLO"
Caro Fernando (Álvaro),
chega a ser estrondoso impacto a sua atribuição de "ridículas" às cartas - DE AMOR. Antes um xingamento, o leitor deveria revisitá-lo, inúmeras vezes em seus versos, os sentidos múltiplos do universo poético que há além de tal correspondência.
O quanto se desconstroem por dentro os bobos apaixonados que somaram seu livre tempo escrevendo-as? São eles tão poucos ante as ilhas cibernéticas de hoje...
Afinal de contas, quem ousaria interromper seus efervescentes cliques para acolher uma caneta, um papel em branco e escrever para alguém de especial importância? (Isso existe?).
Noutro cenário adverso - e averso - ao da concretude que é o charme do papel preenchido, "digitar" é tão chulo ato, que nem dá para chamar de ato, mas de fato repetitivo; é, portanto, fuga de domínio próprio; dá para jogar fora com desprezo... - é pobreza de espírito. (Palavras têm espírito?)
Palavras à tinta em papel são registros cardiogenéticos tal como o são genéticas as digitais exclusivas de cada um de nós humanoides. Portanto, cartas DE AMOR escritas - e não digitadas - são cheias de espírito: vida etérea que viaja no tempo e orbita nos espaços férteis de cada humano que as recebe em afeto.
Gosto é de mão que escreve, desenhando e conectando palavras. É por força da "Matrix", no entanto, que cá sucumbo à emboscada: o paradoxo de estar neste agora e gostar de valores de outrora.
Meu desejo mesmo era é que mais se gastassem tinta no papel em branco - é um ato DE AMOR escrever assim. É como digital de dedo indicador: testemunho irrepetível e infalsificável; tudo indica. Escrever carta DE AMOR, então, deve ser ridiculamente sublime e único.
Caro poeta, Espírito Múltiplo, você haverá de me elucidar à tinta e papel:
será que as "selfies" é que são ridículas, por expressarem tão superficialmente quem somos?
E quem somos?