Esquinas de Brasília, a lula, a baleia e os manequins franceses.
Vi um do Noah Baumbach ontem. "A lula e a baleia". Um dos primeiros dele. Ainda não sei se é bom, não sei se gostei muito. Os homens são muito idiotas nele e tem tempo de tela demais. Queria ter visto mais da mãe. Mas mesmo assim me lembrei um pouco de outras épocas.
Toda essa coisa de família fraturada, pais divorciados, de ser novo e ter que aprender a não ser, de casas em dois lugares, de carência afetiva, de se espelhar pra agradar, de ser impulsivo, selvagem, ferido, de não saber nadinha sobre sexo (haha). Enfim. Isso me é comum, mesmo sendo feito de um jeito não tão bom, foi...
Como é aquela palavrinha em inglês?
Relatable.
Assista ao filme, talvez você xingue os homens também.
Na verdade, acho que todos esses meio "coming of age" (mais palavrinhas em inglês) falam um pouco da gente. O problema, (ou a solução) é que a idade tá sempre chegando, sempre um monstro novo por dia.
Já ia esquecendo! Descobri uma coisa, não sei se é verdade ou não, mas acho que é. Vinícius de Moraes não deve ter mentido, eu acho. Ele disse que Brasília não tinha esquina. Fiquei chocado. Imagina só, uma cidade sem emenda, lisinha, sem junção, costura. Não sei se dá pra confiar. É como chegar na velhice sem história, sem ferida, sem canto. É um ponto ermo que não dá pra lugar outro nenhum.
Pense comigo: Se fosse o clube da esquina em Brasília, ia ser clube do que? Clube normal?
Ou...ou o ditado, aquele que se fala na hora da raiva "vai ver se eu tô lá na esq..." Não. Não vai.
Pois, achei foi a maior graça.
Mas deixe Brasília pra lá. Agora vou falar é das esquinas suas. O coração vem fazendo relevo no meu peito. De novo. Foi por isso que escrevi, não foi pra falar de nada mais.
Já roubando um pouco de Clarice, de novo, (é que ela deve falar melhor de mim do que eu próprio)
"Eu sempre estive só de ti e não sabia"
Essa doeu bastante. As coisas mais doídas são as já sabidas. Não queremos dar por isso, e no não querer saber, negamos.
Amor também é negação,
também é desespero.
Agora me fale aí, e os manequins de loja? Será que eles sentem? Será que, por baixo da casca, dos metros de pele-plastico meio petrificados, eles não reclamam do barulho da rua, do sol que não esfria e coisa e tal?
Tá, é que numa noite antiga, eu passei por uma vitrine de loja, tinham uns manequins assim, como uma imitação meio da vida, uma cara terror.
Fiquei em pensamento. Fiquei pensando sobre essas coisas, virei e ia falar até pra você, mas lembrei que não tava. É ruim as vezes pensar só pra gente. Escrever é bom por isso.
Mas vai me falando. Não que eu ache que você tenha resposta pra tudo, eu tenho logo é certeza. Me fale também se conseguiu fazer o que queria, se a horta deu coisa ou morreu, como tá a família , sei lá, qualquer coisa.
Mesmo.
Ah, e só pra ir logo embora, que eu não quero mais roubar o tempo, uma última coisinha: Hoje aprendi sobre Nouvelle Vague.
É aquilo, juventude européia tentando existir, ser relevante, deixar uma coisa pro mundo. Me lembra um pouco a gente. Claro, sem o francês e todo o resto, mas com esse amor pelas coisas. É legal, é bom. A gente se ocupa tanto de tudo, que nem da tempo de pensar direito nas coisas do coração.
Fico me perguntando se o tempo não vai matar essas coisas. Espero que não. Espero que eu olhe depois pra agora de um jeito generoso.
(Me falaram que um bom é "Cléo das 5 às 7", vou assistir, quem sabe depois eu te escrevo)
Até quem sabe.