Não deixe para quando eu morrer
Sou dramática. Se uma melodia me engatilha, eu a escuto em nostalgia no repeat e eu sempre fui assim. Até que se esgote tudo o que eu preciso sentir. .. Até que eu extraia dela todas as cores, lembranças, danças e palavras que ela me tem... Eu escrevo e escrevo e escrevo várias coisas, até que eu me sinta satisfeita. Eu luto e luto e luto pela vida, por satisfação.
Então vou te pedir, do fundo do meu coração: não deixa para me traduzir quando eu me for. Porque quando eu me for, vai doer de mais você entender. Quando eu não estiver mais aqui para chorar junto e sorrir porque você finalmente entendeu tudo o que eu quis dizer, e agora finalmente podemos respirar sossegados, vai doer de mais pra você. Porque eu já morri uma vez, e eu precisei morrer para entender... O quanto é triste não poder reaver o que ficou sem ser feito.
Você terá que se conformar com a ausência absoluta da minha presença. Terá que barganhar com sua mente imaginando que eu estou em algum plano astral, para aplacar sua dor pela minha falta e pelo remorso de não termos aproveitado enquanto eu estive ao seu lado. E viver nessa barganha é tão doloroso quanto, pois você vai viver na dúvida de "será que existe outro plano ou é somente uma ilusão pois não aceito que ela partiu?". Vai doer demais essa confusão e ela estagnará sua vida.
Não deixe para me ler quando eu morrer, porque quando isso acontecer, você não poderá mais escrever seu capítulo de amor no meu coração. Não deixe para me ler quando eu morrer, porque ficará dolorosamente impresso no seu coração tudo o que não vivemos, de novo... Eu sei que você não gosta de ler, mas tente fazer um esforço por nós, sim? Porque ler o coração de sua amada é tudo o que essa escritora mal amada precisa para sorrir de novo. E você sabe, lá no fundo, tudo o que ela precisa para ser feliz, porque você sempre soube.
Eu quero tanta intensidade quanto sou capaz de sentir porque quando gosto de algo, no fundo sou obsessiva. Eu quero ir no fundo disso, e quero viver tudo o que tem para viver. Eu sou obsessiva por nós. Eu sou obsessiva por tudo o que ainda podemos ser. Pelo processo de renascimento que poderemos viver através do nosso amor. Você não tem sido você mesmo e eu não consigo encontrar em você suas melodias autênticas. Me deixe escutar tuas melodias autênticas para viciar em você até escutar tudo o que você tem e dançar, cantar, e escrever tudo o que você ressoa em mim... Você sabe o quanto nosso amor é potente e eu não entendo porque está controlando tanto as coisas. Não faz sentido se controlar por medo de esgotar, você não está enxergando o que há diante de nós: jogue-se logo no precipício comigo, por favor. Porque quando as rajadas do tempo soprarem, seremos afastados e nunca saberemos como o voo seria se tivéssemos pulado juntos. E quem garante que seremos jogados pro mesmo lado, de novo?
Então, não deixe para me ler quando eu morrer... Melhor é me entender e se entender agora, o quanto antes, pra gente poder se atirar na cama, o quanto antes, pra gente poder se atirar na vida o quanto antes, poder viver, sorrir, gargalhar, chorar, gozar, brigar e ser um casal de verdade, o quanto antes... Quebrar as taças, as correntes, se separar e depois voltar quantas vezes for, mas ser, só ser, jogar as cartas, dar a cara a tapa, fazer pra valer e viver, pra quando morrer.... Partir satisfeitos e morrer em paz.
Não deixa pra me ler quando eu não for mais capaz... de correr e saltar para os teus braços como fiz 18 anos atrás.