Cartas para "Eu mesma", nº1

Querida Eu do passado.

Aquela menina pequena, medrosa, cheia de "nãos". Parabéns pela evolução. Até que você conseguiu se virar bem.

Se pudesse te deixar aqui alguns conselhos, pare de ser romântica. Talvez aquela sua colega estivesse certa. Você é muito bobinha, não dá para ser tão sensível, não dá para ser tão você o tempo todo, criança.

Pare de ler A Saga Crepúsculo, porque o Edward não é o herói, a Bella que se salvou e o salvou na maior parte do tempo. Você sonhou em ser a Bella muitas vezes. Sonhou com alguém que te amaria de forma tão protetora, e sonhou poder ser autônoma tal qual ela aprendeu a ser, reivindicando, por exemplo, o direito de ser mãe.

Mas você não tem a pele branca como gelo, e a Bahia é quente e não se parece em nada com Forks. Que triste.

No fim da história, ela tem a família que sonhou, a casa que sonhou, a filha, o amigo, o esposo, o pai. Ela não perdeu. Já você, vai perder muitas vezes. Queria estar aqui dizendo que você não vai perder, que dará tudo certo, e quem sabe lá na carta de nº 58104750134, mas não nessa.

No fim, e não é o fim, você já não é tão jovem, 26 aninhos, alguns cabelos brancos, algumas responsabilidades, mas algumas pequenas vitórias, e se alegre por elas, porque você também sonhou com elas em algum momento, e hoje eu estou aqui lutando por você, por nós duas, que sou eu mesma, e que dá no mesmo.

A tristeza não é o fim. É o seu recomeço. É o seu combustível. Não vá se embriagar nela, e se afogar como se o mundo não fizesse mais sentido. Mas essa tristeza, esse devir-vazio, não é falta de Deus, pois Ele também está aqui ao seu lado escrevendo agora, não é falta de amor próprio, nem falta de amigos ou de família, muito menos de relacionamento, e esse último será sempre seu calcanhar de Aquiles.

Então, seja forte, você sempre foi, está no seu DNA.

Só vim aqui te dizer isso, e te dá um abraço, acho que você está precisando.

Se cuida, princesa.

Com amor, Eu mesma do presente.