MAR DE MONÇÕES

Posso te fazer versos brancos*, românticos

ou vermelhos, em curvas, que queimam tão forte e se tornam azuis.

Mesmo no silêncio, meus afetos não se submetem às tuas oscilantes marés,

nem se amortecem ante longas ausências.

Fecho os olhos e assisto o mundo desaparecer nas minhas ficções.

Cometas cruzam a constelação de aquário e se chocam,

experimento o torpor de uma presença una me tomar num ritmo lento.

Você está lá "sorte da minha sorte"**,

"velut luna, statu variabilis"***

Ainda no fim de tudo, você é apenas o início do meu fantasioso final feliz,

me fitando com seu olhar etéreo e indiscreto,

do qual não posso me desvencilhar

Sou feita de água doce, em mim tenho muitas monções

e o desejo de me desintegrar nas tuas águas salgadas,

ser atravessada pelas tuas ondas,

me diluir nessa substância da qual tive uma breve prova.

Submergir nelas é o risco de não ser mais eu mesma e me tornar parte da tua imensidão.

Mas, sempre acabo naufragando nas fendas abissais do teu oceano que, com recuos e maremotos repentinos, desaparece...

Notas:

* em teoria literária "versos brancos" são versos sem rimas que podem ou não possuir métricas.

** Sadalsuud (estrela mais brilhante da constelação de aquário)

***verso de "O Fortuna (Ó, Sorte) " um dos poemas das Canções de Beuern (Carmina Burana)

- velut luna (És como a Lua) statu variabilis (mutável).

Solivagant
Enviado por Solivagant em 18/09/2023
Código do texto: T7888509
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