Carta para Luiza
SAMissões, dezembro de 1983.
Estou com a caneta e o papel na mão, mas não sei o que escrever. Eu tinha tanto pra te falar, que não sei por onde começar. Às vezes, eu me distraio rabiscando outros papéis só para pensar em relação à você e nossa bonita amizade. A amizade já é um assunto bem batido entre nós não é? Mas só nós duas sabemos o verdadeiro valor dela. Eu queria te dizer que você "é a minha melhor amiga". Sabe, no começo do ano, eu vou ser bem sincera com você, eu não gostava nem um pouco de você. A gente nem conversava. Depois, não sei bem como nos encontramos e eu passei a conhecer você. No princípio era uma amizade recatada, tímida, um pouco medrosa (desculpe e eu dar essa imagem à você de algo tão bonito), mas depois foi se tornando por demais amizade mesmo e eu já sentia falta de você. Quando você não estava comigo eu me sentia sozinha, mesmo estando rodeada de gente. Eu sentia medo das pessoas que estavam comigo, não sabia se podia confiar nelas, mas em você sim. Pra você sabia que podia falar tudo o que eu quisesse que de você não passaria. Eu tenho certeza que se um dia eu aparecesse no colégio e diria algo como: eu matei alguém!, só você saberia e você não falaria a mais ninguém. É claro que isso não é verdade, é apenas um modo de dizer que eu poderia confiar toda minha vida à você num só minuto que você não a ponharia a perder. Eu sei que quando eu partir novas e melhores amigas surgirão para encobrir a minha falta, mas eu espero que elas não atrapalhem e nem acabem com esse sentimento tão bonito que é a amizade. Um dia eu vou voltar e espero que estejas como eu a deixei, amiga, simples, sincera, bonita e legal. Quando eu partir eu vou lhe escrever. Serão longas cartas pode ter certeza e eu espero que você responda a todas, com toda sinceridade...
Carta escrita para Luiza M. O. em 1983 (eu tinha apenas 15 anos). Estava saindo da cidade (na fronteira com a Argentina), para estudar em colégio agrícola no noroeste do Rio Grande do Sul. Tinha o sonho de ser veterinária...
Como prometido enviei inúmeras e longas cartas que nunca foram respondidas por Luiza. Nos falamos em 2006 quando eu consegui seu telefone e liguei. Ela estava casada com o rapaz que namorava quando saí da cidade. Falamos, prometemos nos ligar sempre, mas aquela foi a única e a última vez. Nada mais sei de Luiza... Espero que a vida lhe tenha sido boa... e que ela esteja bem, onde e com quem estiver...