Onde estás agora?
Onde estás agora? Onde? Onde? Essas palavras ecoam em minha mente enquanto as lágrimas rolam em meu rosto...
Meu mano querido! Você quer me ouvir? Eu grito, eu grito!... Eu te amo! Meu Deus, como eu sinto a tua falta!
Por que você se foi? Por que? Por que?
Eu sempre quis te dizer tanta coisa... que você é lindo, lindo! Muito importante pra mim. Que gosto de teus papos. Quantas vezes falamos da infância? Teu orgulho do pai, teu carinho pela mãe, tua admiração pelas irmãs...
Oh, meu querido! Onde estás?
Deixaste uma brecha, uma lacuna. Meu coração dói tanto, uma dor insuportável... Saudade, saudade! Eu queria tanto ver você! Cadê você? Onde você está?
Por que você se foi? Não disse nem adeus?
O mar, esse assassino, o mar que amavas, que admiravas, esse traiçoeiro que não respeita o amor, não respeita ninguém! Como tudo isso foi acontecer?
Tenho vontade de gritar ao mundo a minha dor, mas tenho que sofrer calada. Por que? Não sei. Será que sou maluca? Não há um dia em que eu não pense em você meu querido. E, no entanto, escondo essa dor. Por que?
Como foi que você morreu? Não sei, não sei. Não quero saber.
Meu Deus! Como você deve ter sofrido. Que dor, que agonia. Ou foi tudo tão rápido que nem percebeste?
E tua vida, que era tua vida? Que significado ela teve? Para que nasceste e morreste? Eu não compreendo Deus, sou tão pequena. Não entendo mais nada, parece que estou parada no tempo esperando a vida passar.
Você me entende irmãozinho? Você me entendia sempre. Me amava. Sei que me amava muito. Por isso eu também sofro tanto. Meu único irmão... O único... e agora onde estás????
Por favor, me responde...
Ah! Deus! me ajude a entender a vida, me ajude...
Carta para meu irmão do meio, Milton José, que mergulhou no mar - para sempre - em 1993, aos 23 anos (ano em que esta carta foi escrita).