A Dor das Marias III
Mas... eu sei... como fazer isso - caminhar sozinha - se eu mesma ando cambaleando? Nem meu filho consigo ajudar. Não o reconheço mais. Não vejo mais o Guerreiro Forte que é o significado do seu nome.
Vejo um menino que leva na mala de viagem um barco-skate, alguns cadarços, isqueiros e bloco de papel. Que compra camisetas e não as usa. Que sabe o que precisa fazer e não tem forças.
Eu choro e me lamento por ele. E ele não sabe a dor de uma mãe em ver o filho desmoronar no meio do caminho da vida. Eu o criei com asas para voar, o levei até o portão e disse: - agora voa, você pode, você é uma águia forte, guerreira e linda.
Mas, talvez foi cedo demais, ou muito tarde... talvez o tempo de voo não foi o certo. Eu medi sua força por mim e ele não sou eu.
Ele saiu do casulo como aquela borboleta amarela com bolinhas pretas que eu ajudei a sair cortando um fio que prendia sua asa. Ela nunca voou, caminhou pelo corpo molhado de chuva de um menino, com sua asa deformada, porque lhe cortei o fio que a lapidaria na fase final de seu nascimento para o voo e depois a levei a uma folha do jardim. No dia seguinte estava morta. Que dor.
Que fio da vida de meu filho eu cortei ? Ou foi a vida? Ou foi ele? Ou não havia fio a cortar e eu não entendo a sua dor, o seu sofrimento?. Mas sofro por ele. Choro por ele... com ele... mesmo longe, estou perto. De longe o amo... de longe rezo por ele...