Caríssima
De princípio desculpo-me pela demora descomunal, escrevo esta carta, vindo dos mais profundos buracos, tão sujas quanto ratos, tão perigosa e atrevida como a peste bubônica. Não cheia de desculpas, não sendo um efúgio, mas declarando que minha rotina é alvoroçada.
Subindo o morro da saudade, virando à esquerda, fica a pedreira, o topo do morro que resido, que nas noites coisas boas imagino, onde por alguns segundos lembro do oxigênio, lembro de quem sou, que estou vivo e o quanto o mundo é bonito, ainda mais com esse céu, como os teus olhos, cheio de brilhos.
Amanhã, mais tardar quinta, tens minhas mensagens de rotina, mas convenhamos, muito mais instigante uma carta com detalhes que especificam a ansiedade de como é descobrir o que há atrás da cortina.
Aquilo que mencionei sobre respirar ar puro é um lado mais obscuro, como se fosse um alívio mensal, as vezes bate um vento pra te lembrar de respirar, que a vida não é tão ruim quanto parece, que o mundo há pessoas que se prezem, que altura não se mede, aparência não se julga, amor não se pede e que na praia não se usa sunga.
No meu dia muitas coisas tem acontecido, muitos imprevistos, essas semanas estão traiçoeiras como casca de banana, sujas como lama e num sentimento como os filmes de Tim Burton.
Sonhei que residia numa casa no meio do nada, assim, mas o chão era arenoso, no meio do deserto. Um pouco à frente da casa havia uma rua principal com a largura de um carro só. Essa rua sumia no meio das montanhas. Dentro da casa, estava apenas eu e minha mãe.