Cartas de Marie
Não sei mais classificar minhas cartas. Nem que título colocar. Só sei dizer teu nome e que preciso urgente lhe falar, dizer do grande amor que me toma a alma, que me fortalece e dá forças para viva continuar.
Nosso amor está escrito nas estrelas. Não importa o tempo que passar, não importa as tempestades, nem as ondas gigantes do mar. Ele está lá. No silêncio do rio que corre suas águas para o mar, na horas atrasadas, nas que antes se chega, na tantas partidas para depois voltar. O amor não olha as circunstâncias, não é condicional.
O amor está na melancolia de uma pétula que cai, na imensidão de uma gota de chuva que percorre a pele e o corpo como o beijo de minha boca inebriada de paixão, como o acalanto do abraço de teu mar.
Ele está nos envelopes que chegaram me entregando a própria alma. Nos sonhos de um homem à procura de seus caminhos, em horas zebendas, no kronos da vida, na nobre púrpura ou no zelante, nas sombras, no adeus das viúvas de samangar. Ele está nas cartas e lindas flores da vila dos vinténs, coisas que nunca ousei falar, só em silêncio agradecer e me curvar em lágrimas de alegria e dor da saudade de não poder naquela hora, fisicamente, te abraçar e beijar. O amor supera ausências, distâncias, silêncios que não ousam calar.
Eu sempre vi a verdade. E a ela sempre me entreguei. Sempre quis viver plenamente esse amor, contigo falar, ouvir tua voz. Eu choro convulsivamente só em lembrar nas quantas vezes eu tentei... eu tentei, eu tentei... e tentei mais uma vez.
O amor está naquele presente que milhões de vezes deslizo amorosa e suavemente a mão. É assim que te visito na noite e nos dias, é assim que, no teu corpo, posso dedilhar minhas canções, te tocar, acariciar, adormecer em teu colo, em minhas horas minha alma desnudar, fazer amor, de prazer e felicidade chorar.
Tudo isso que falo agora, que sempre tive timidez em falar, estava guardado escondido dentro de ti, do teu corpo, do meu novembro de vida. Escrito em frases desconexas, urgentes, desenhadas intempestivamente para não esquecer. Em palavras simples - só meu falar. Onde gritei tantas vezes que te amo, e você sempre ouviu, sempre soube, mas ficou em silêncio, só a me escutar.
Eu sempre quis te tocar com as palavras. Acariciar tua face, beijar. Cada vez que dizias Até logo, Já Volto, Depois eu Volto, eu chorava com suas demoras, porque era urgente o meu amar.
Tua poesia me cortava, me arrancava centímetros do chão, colocava sal nas minhas feridas, depois vinha como um bálsamo me acariciar. Eu ficava perdida, enlouquecida, dolorida, mas ria, gargalhava e me entregava a estupenda felicidade quando falavas em amar.
Você hoje pergunta onde eu estava? Eu estava aqui, sempre com você, ao lado, segurando tua mão, torcendo por sua vida, apostando em ti, pulando de alegria com tuas vitórias, com a amizade verdadeira, com o amor que eu sentia e te entregava em cada poesia, em cada prosa, em cada linha - e que, penso, você nunca leu.
Eu te amei até nas entrelinhas, nas reticências, no silêncio quando não sabia encontrar palavras ou quando chorava ao te ler e não conseguia mais nada verbalizar, só amar. Eu te amei tão intensamente que chegava a doer. Eu te amo tão intensamente que chega a doer. Eu sempre vou te amar. Você é meu sol, meu luar. A razão da minha existência, de eu vir ao mundo, eu vim, nasci pra te amar. E eu sempre quis te entregar meu amor e no mesmo momento ouvir do teu. Mas nossos relógios do tempo se enrolaram em fios e nós que a vida fez. Mas sempre de novo você voltou, sempre de novo me procurou e sempre de novo me encontrou. Te amar me basta Amor! Te amar me completa! Te amar me faz ser mulher de sonhos, mulher de beijar, de brincar com flores para tentar expressar, falar....
Não tenho mais forças pra escrever. Não sei mais o que dizer. Que tua alma se renove em cores, que minha luz chegue em teu coração e que meu amor vá para o teu devagarinho, mansamente, distraído das dores da vida, amante, carente, urgente, que meu amor te alcance, que eu possa sempre te tocar com palavras, e em cada letra, em cada carta, em cada gesto te viver, te abraçar, intensamente te amar.
Beijos
De Marie.
Em 11 de setembro de 1889.