O pintor de girafas
Já ia quase dormir, mas aí quis escrever pra você um pouquinho. Tá bem frio, me enterrei na coberta até só ficar a cabeça, os dedos, e o celular. Faz tempo que não escrevia uma carta. Teclando perde um pouco a graça, a coisa da tinta, da caneta, do risco, mas é que tá bem escurinho, ia ser ruim de ver.
Tava assistindo aquele "Elena", não as do Maneco, é um documentário da Petra, uma tristeza só. Chorei um pouquinho.
Hoje o dia foi longo, parecia pescoço de girafa, uma com dedos enormes. Girafas tem dedos? Acho que não. Enfim, a coisa é que o dia hoje parecia não acabar. Porque eu falei de girafas?
Ah! Lembrei!
Acharam uma girava sem manchas, num zoológico lá num sei onde, você viu? Austrália, eu acho. Totalmente sem machas. Quando eu vi a notícia pensei foi que o pintor que fazia o trabalho de por os borrões deve ter dormido no ponto, achei graça. Ou sei lá, vai ver foi um capricho do universo.
Você também é um capricho do universo, o mais legal deles. Não, legal não. Legal é pouco. O capricho mais lindo. Maravilhoso. Uma nebulosa.
Ah, tá. Eu falava de Elena, o documentário. Então. Lembrei de você. Apertou o coração bem muito. Lembrei de você principalmente na parte em que ela fala que não conseguia viver sem arte, e também na coisa do atuar. Um atuar de criança, de casinha de bonecas. Você é um pouco assim, não é? Um pouco atriz, um pouco criança. Faminta por arte. Você atua só com o olhar. É lindo.
Aliás, tenho todas elas aqui, viu. Todas as que você me escreveu. É engraçado, as vezes, a letra muda de uma pra outra. Não sei se faz de propósito, mas é curioso, você é várias até quando escreve.
Eu queria muito achar as cartinhas que eu escrevia pra mainha quando novo. Tava lembrando. Minha letra sempre foi feia, garranchosa. Eu nunca consigo saber o que tinha nelas, mas devia ser um "Eu te amo" e coisa e tal, nada muito eloquente, mas era verdadeiro.
Eu nem lembro mais o que eu ia falar, acho que foi mais pra querer saber como anda mesmo, e pra falar umas bobagenszinhas. Minha cabeça fica girando de um lado pro outro antes de dormir, é engraçado.
Por aqui tudo tá meio confuso, mas eu não vou falar das coisas ruins não. Eu me sinto um pouco mais feliz agora. Tô entendendo minha fragilidade um pouco, a poesia tem me salvado, conheci gente nova, amei mais a gente antiga, mas nunca é o bastante, né? Amor tem que ser regado eterno.Fora isso , a música tem me botado de pé, (escute Luedji, você vai amar)
Mas é isso, se puder vai me falando depois como você tá, conta as novidades, reclama um pouco, eu vou adorar ler.
Ah, não esquece de comer direto, é importante.
Já vou indo, beijo.
Do amigo que te ama