Maria ou Jó?
Escrevo esta carta seu doutor, esperando que ela possa alcançar um número grandioso de leitores, não sei também se estou escrevendo para arrancar a dor do peito, se é para desabafar, mas escrevo principalmente para contar sobre Maria! O nome simples coincidência com a mãe de Jesus, não sou supersticioso para dizer que por causa do nome estas coisas aconteceram com Maria.
Escute-me com paciência, senhor Doutor, vou contar-lhe com alguns detalhes a vida de Maria...
Ela nasceu em uma fazenda, de um pequeno Município do Estado de Goiás, Filha de pais pobres, era a terceira filha das cinco que o casal possuía!
A cada dia Maria, acordava com os gritos e berros de seus pais brigando, o que os levou a separação, quando ela ainda tinha mais ou menos 8 anos de idade. O pai de Maria foi embora levando Maria e três de suas irmãs, deixando uma irmã com a mãe!
Veja seu doutor, Maria com sete anos de idade, sendo levada pelo pai, montadas em um cavalo sem arreio (no pelo) a mãe e uma irmã ficam chorando e Maria com as três irmãs que tinham 6, 7, 8 e 9 anos de idade, vão chorando, olhando para traz até sumir na curva da trilha!
O pai tenta sozinho criar as quatro filhas, saía cedo de casa, deixava as quatro meninas sozinhas. As mesmas se aventuravam na floresta, brincando e colhendo frutos silvestres, não preocupadas com o horário voltava as vezes tarde da noite, muitas vezes sendo procuradas pelo pai, que quando as encontrava, sempre as espancava, com uma raiva grandiosa, o que muitas vezes também ele (o pai) as deixava amarradas, para que as mesmas não fugissem. Muitas outras vezes elas passaram as noites em grutas e cavernas, com medo de voltarem para casa e serem chicoteadas...
Senhor Doutor, o pai de Maria, não agüentando a vida e pela ignorância que lhe era peculiar, pega as quatros filhas, monta-as no cavalo, desce a serra, dirige-se a um fazendeiro da região, que era conhecido por todos como Gaúcho, o qual Ele o gaúcho e sua esposa já tinham dois filhos (gêmeos) a esposa estava grávida, e tinha mais um total de quatro filhos adotivos, (Este casal criou um total de 18 filhos adotivos). Então o pai de Maria, diz: Gaúcho eu vim trazer estas meninas para o senhor cria-alas; o Gaúcho então pergunta qual delas? Ele respondeu: as quatro! Mas o senhor não pode fazer isso! Os filhos têm que serem criados pelos pais, se o senhor quiser eu ficarei com uma, disse o gaúcho.
Então aquele homem responde enfrente as quatro filhas: se o senhor não quiser ficar com elas, eu subirei aquela serra e matarei as quatro. Então atemorizado o senhor gaúcho disse; pode deixá-las comigo, eu as criarei como minhas filhas.
Mas uma vez senhor doutor, Maria vê seu pai indo embora, não sei se estava alegre ou triste, (nunca procurei isso para ela), e ficava com um casal desconhecido! Conta minha mãe, que Maria, e suas outras irmãs só tinham a roupa do corpo, e quando iam ao córrego tomarem banho, tiravam a roupa lavava-a, colocavam para secar-se no sol, e esperavam para vestirem logo após secar-se. Minha mãe. há! A mãe adotiva agora de Maria e das outras, pegou alguns panos e fez algumas roupas para as mesmas.
Um amigo da família, vendo o casal já com três filhos pequenos, e mais um total de oito adotivos, pediu ma daquelas meninas, por ser um casal de boa família, o Senhor Gaúcho e sua esposa atendem e passam a adoção de uma irmã de Maria para os mesmos. Mas uma vez a dor de Maria vendo a irmãzinha indo embora com um desconhecido, podendo simplesmente abanar com as mãos e dizer: tchau!
Senhor doutor talvez fora esse os melhores momentos da vida de Maria, um espaço curta da adolescência, trabalhando, brincando... Até que arruma um namorado, rapaz este que morava na mesma fazenda, moço pobre, mas trabalhador, ainda bem nova fora pedida em casamento, sendo aceito o pedido; casa-se e vão viver em um pequeno rancho á beira de um córrego...
Como todo casal tem alegria e quer ver um filho, não fora diferente com Maria, grávida, preparações para esperar o nascimento... Nasce uma bela menina, Maria gora alegre canta, sorri, abraça aquela linda filha, mais isso doutor, não durou muito tempo, questão de mês, alguns dias, a menina adoece e rapidamente morre, as lagrimas, o pranto, o sofrimento de Maria ao ver sua filha amada indo embora dos seus braços para o cemitério, mas Maria era forte e suportou mais esta batalha... Vem à segunda gestação, nasce agora um lindo menino, Edgar foi o nome que o avô (o Gaúcho) escolheu, cresceu já estava com sete anos, Maria já tinha outro filho, tudo marcado para ir estudar na casa do avô adotivo, então junto com outro menino o Edgar, fora tirar água num poço, então quando segura o balde o amiguinho solta a corda, e o Edgar caiu no poço batendo com a cabeça no balde, morrendo imediatamente, e agora Maria grita em volta daquele poço com o outro filho no braço, desesperada, sem poder fazer nada, alem de esperar um visinho chegar, tiram o Edgar do poço já estava morto... Mas uma vez o cemitério... Maria supera! O quarto filho nasce este tem problemas mentais, precisa então de cuidados ainda mais especiais, e Maria consegue, trabalha, luta, supera...
Maria e o esposo mudam-se, para uma pequena cidade do estado do Tocantins. Senhor doutor aí e que as coisas pioraram, o esposo se torna alcoólatra, e sabe-se como foram os próximos dias da vida de Maria, estarei evitando estes pormenores, mas Maria foi vencendo trabalhando de doméstica, diarista etc.. Todos gostavam dela, pois era zeloso, caprichosa, nunca vi alguém que lavasse louças como Maria lavava!
Certa noite senhor doutor, Chega-se a noticia para Maria: seu esposo fora encontrado desmaiado em uma rua da cidade, havia levado uma pancada na cabeça, que o levou a ficar paralítico, foi para a cadeira de rodas, mas Maria consegue com amor cuidar do marido, moravam em uma casinha feita de palhas com o piso de chão... Maria orava, esforçava, e como dizia ela pela graça de Deus conseguiu ma casa de tijolos sem portas e sem janelas e sem reboco...
Alegre Maria continuava a luta. Certo dia o marido de Maria adoece e pra não falar dos dias de lutas no hospital, ele o marido de Maria morre... Velório Cemitério. Maria supera e segue em frente. Maria juntamente com as outras irmãs descobriu o endereço da mãe biológica, as trez foram vistar a mãe, Maria prepara-se para ir, um dia antes de sair recebe a noticia: A mãe morreu. (durante quarenta anos que fora separada da mãe ela vira a mãe somente uma vez. Passam os anos e Maria para continuar com a vida arruma um novo marido, parece que agora tudo ia melhorar para ela, mas senhor doutor, os filhos não aceitaram a união com aquele homem... Maria então saiu de casa e fora morar em um pequeno rancho, onde cabia apenas uma cama, uma maquina de costura, um pequeno fogão e uma geladeira. Este rancho era feito de palha, teto e paredes... Eu fui visitar Maria nesta casa, confesso senhor doutor que o meu coração doeu, disse para ela; volte para sua casa, saia deste sofrimento! Mas ela não quis escutar, pois sei que amava aquele homem, continuou ali, cuidava do filho na outra casa e do marido naquele ranchinho de palha!
Senhor doutor! Espere um pouco mais, ainda não terminou falta pouco... Desta vez mais uma alarmante noticia! O esposo de Maria era aidético, e Maria na sua simplicidade, sem conhecimento algum... Contra-e o vírus HIV, enfraquece, exames, nada de resultados, passa o tempo o sigilo, os boatos, anemia, queda de cabelos. Juntamos a família todos ajudaram e encaminhamos Maria para Goiânia, foi para a casa daquela irmã que saiu quando era pequena! Não internaram a Maria precisavam aguardar os resultados dos exames. Ária morava em bairro distante do centro médico, para ir ao hospital gastava cinqüenta reais de táxi, pois não agüentava ir de ônibus, não tinha dinheiro, minha mãe a mãe adotiva de Maria, arrumou um dinheiro entre a família e amigos e enviou para a irmã de Maria... Ma parte do dinheiro que ficara para ser enviado posteriormente, alguém na casa da minha mãe roubou...
Bem vamos encerrar, quando descobriram a doença de Maria, internaram e fez vários exames, Maria até que emfim conseguiu vencer! Mas como? É isso mesmo ela venceu, as dores foram embora, estava Maria só osso e pele, fraca anêmica, pálida, quase sem cabelos, mas ela venceu! Foi chamada para a eterna glória, foi descansar nos braços do Pai! Ela viveu aqui 53 anos!
Senhor doutor encerro dizendo uma coisa: Maria Nunca reclamou da vida, preferiu morrer calada! Ela sempre dizia; graças a Deus porque eu ainda...
Eu pergunto senhor doutor: Posso chamar Maria de Jó?
Esta carta diz muito pouco da vida de Maria, mas é verdadeira, pois;
Maria era minha irmã...