Carta aos poéticos.

Aos que de tal modo se encantam, pirracentos, teimosos em querer, de tal espanto insistem em escrever. Aos que escrevem chorando, aos que sorriem , aos trêmulos e soluçantes, aos poetas e poetisas desse fulgor viver. A nós tantas vezes cabe o pranto, o esticar no entanto, o tempo do acontecer. Noutras tantas e tantas vezes cabe-nos descrever o invisível, o que ninguém ainda viu e provavelmente não verão, mas nos é inevitável a descrição do abstrato, do que não se toca, não se vende, não se compra e muitos não entendem o sentir. Não há motivos para isso;dizem. Pense em você, no obter, no obscurecer de tudo e todos ao desvanecer;insistem. Aos poéticos cabe o flagelo da rima, o açoite das querências, a dolorosa escrita incompreendida dos que vivem de barulhos. Quem mais se encantaria com o silêncio? Caberia ao barulhento se encantar com o intervalo que antecede a explosão de cada nota?

Para todos nós, eternos num instante, o insistir em laçar a lua com barbante, fazer luminária de um jantar na natureza. O colher estrelas lambuzadas de infinito e presentear a quem amamos. O suspirar ao lembrar o nome do amor, sentir seu gosto entre os dentes,estalando no céu da boca ,repousando na língua quando pronunciamos o nome.

Aos pirracentos poéticos ofereço compartilhar da dor da existência neste mundo barulhento. Espero vê-los um dia na eternidade de nossos amores, de nossas palavras teimosas, nossas pirraças amorosas, flores do nosso versejar.

Deste amigo pirracento e teimoso, um abraço, beijo no rosto, choros,risos e afins.