DAMAS DA NOITE
O cheiro do álcool era a única lembrança viva dos dias de juventude. A única coisa que a guerra não me privou de sentir.
As poças de diesel, realmente me fazia relembrar as noites tranquilas que um dia tive.
Que saudade. Lembro das garotas, antes de nossa campanha, nas festas de despedidas, antes de partirmos para o fronte.
Elas, sempre se exibindo de forma a não demonstrar, enquanto homens, assim, como eu, idiotas, não tirava-lhes os olhos. Sabiamos que podia ser nossa última chance. O último momento antes do adeus incerto. Sabíamos que havia uma enorme chance de nunca regressarmos para casa.
Nunca vi tantos homens procurando por mulheres, como vi naqueles dias.
Mas, aqui, nesses tabuleiros de cinza e cal; aqui também tem bonecas... Mas elas voam. Dançam no céu como cometas. E agora, dessa vez são elas quem não tiram os olhos de nós. São elas quem nos procuram em suas vassouras de metal e gás, implacavelmente, ao luar.
Nunca vi tantas mulheres procurando por homens como tenho visto aqui.
Como também nunca vi tantos homens fugirem delas...
M.N.C - SOLDADO / INFANTARIA
LENINGRADO, 1942-3
(Heterônimo)
O Relato faz parte de uma Coleção de Poesia, Crônicas e Relatos sobre a Segunda Guerra Mundial, mais precisamente em Leningrado, palco da batalha mais sangrenta de toda a guerra.
Escrito pelo M.N.C. ( Heterônimo) Soldado de Infantaria.
O Relato fala sobre as mulheres aviadoras - As Bruxas Noturnas - que tomaram os céus de Leningrado, defendendo seus territórios dos inimigos. Poema mostra uma ironia em contraste com duas situações distintas.