Para quando a minha derradeira hora chegar
Quando a derradeira hora chegar, poucos irão chorar a minha inevitável partida, mas quero deixar a atmosfera da minha presença impregnada nas coisas e pessoas que abracei, para que dessa forma, eu possa aliviar a tristeza do luto.
Sei que para alguns não irei fazer a mínima falta, pois eu já não fazia ainda em vida... entretanto, àqueles que me deram condições para adentrar suas vidas, espero humildemente ter cumprido um bom papel e suprido vossas necessidades, espero que a reciprocidade tenha sido o laço das nossas relações, se não, que tudo que eu os tenha oferecido, possa suprir qualquer falta de vossas partes. Na vida, há que se ter generosidade no coração, para não só partilhar momentos, mas também partilhar o "pão ", que neste caso, configura a necessidade de cada um, sendo suprida na honestidade dos gestos. Não culpo os que nunca tiveram nada para partilhar, as "fomes" são diferentes e alguns são "desnutridos " de alma... ninguém os alimentou e aprenderam arduamente a garantir suprimentos a si mesmos, para de algum jeito se sentirem vivos. A mim não devem nada, fiquem em paz. Se eu pudesse voltar a viver, faria tudo exatamente igual. As experiências boas e ruins me deram suporte para viver sabendo extrair o verdadeiro valor de cada coisa, aprendendo a valorizar não só os sentimentos alheios, como também a valorizar-me e sempre proteger meu coração, de modo que esse não fosse contaminado pelo ódio e a indiferença, pois nada disso compensa e só consome energia, apodrece a vida... que deve ser vivida intensamente... honrada em cada detalhe... e são tantos!... basta olhar ao seu redor para contemplar as inúmeras maravilhas de Deus. Céu nublado sempre existirá, tempestades não podem ser evitadas, fúria dos ventos não conseguem ser refreadas... contudo, espere o sol chegar... aprecie o pôr do sol e o arrebol com suas matizes de cores... é um grande espetáculo que merece ser deslumbrado pois enternece o espírito de forma extraordinária... nos conecta ao criador de tudo, ao grande cosmo, ao universo. Então, viva cada instante como se fosse o último, não guarde palavras, só as que forem ofensivas, caso contrário, revele através delas todo seu sentimento, não deixe que elas morram contigo, não deixe que o outro pense que você não se importa e que não tens coração, não deixe vãos... porque do nada a morte chega e tudo será em vão... porque ela encerra tudo, mesmo o que ficou pela metade... não deixe que a vaidade te faça morrer em vida... para pessoas e situações... faça tudo que estiver ao alcance de suas mãos executar... para que não seja tarde, para não ser surpreendido com as mãos cheias de sementes que ficaste cogitando semear ou não. Eu planto vida hoje, para não semear a morte de amanhã... garantindo flores e frutos aos que ficarem depois da minha partida... para ser eternizada nos corações que me deram abrigo. Obrigada por tudo!... me perdoe qualquer falta que tenha passado desapercebida. Nos encontraremos em outro plano e teremos planos e chance de nos conciliar... ou reconciliar.
》Nota: Esta carta ficará como registro do meu último adeus, como consolo aos que lastimarem a minha súbita partida... como não sei quando será, resolvi me antecipar. Especulações nada condizem com o intuito da carta. Diante de algumas inevitáveis perdas bem próximas de nós, começamos a ficar pensativos quanto à morte, mais reflexivos enquanto a vida ainda está correndo.