Missiva à minha professora de matemática
Cara professora, você lembra de uma menina magrela, moleca, quase sempre com um boné virado para trás e notas excelentes? Naquele tempo, eu queria ser tantas coisas: Veterinária, dançarina do ‘É o tchan’, escritora (crianças tem tantos quereres quanto o céu tem estrelas). Curiosamente, nenhuma das minhas imaginadas futuras profissões envolviam a sua matéria: Matemática. Apesar de ser uma das minhas (muitas) matérias favoritas, um desafio divertido ( E hoje vejo: Uma maneira de autoafirmação junto ao grupo de colegas, semelhante ao capricho feminino com batom e cabelo ou incansáveis demonstrações de habilidades futebolísticas por parte dos meninos), nunca imaginei a matemática como profissão. Eu lutava para me convencer que poderia estar sempre mil passos adiante em qualquer coisa que me propusesse a estudar. E, incrível, eu conseguia: Quando fiz aquela prova que me permitiu “pular” a sexta série e ir direto para a sétima, cheguei na nova sala exatamente no dia em que você estava dando uma “prova surpresa” e implorei para fazer. Ganhei um 10 na prova e a antipatia temporária de vários colegas.
Sob o seu olhar severo aprendi e aprofundei muito do que já sabia. Hoje me pergunto por onde anda este meu “eu” que tinha tanta facilidade em destrinchar as coisas - Aos trinta e tantos anos estou cursando a segunda faculdade e pela primeira vez preciso acordar muito cedo e estudar até atingir a exaustão para entender os cálculos ( Quem inventou cálculo diferencial e integral?), recordo com saudades as tuas explicações detalhadas e pacientes e penso “Com uma aula da Dagmar, eu já estaria calculando integral com os pés nas costas…”.
Se um dia eu for visitar novamente a cidade onde passei parte da minha infância, irei até a antiga escola apenas para dar um grande abraço e agradecer pelas excelentes aulas (Se você ainda estiver por lá…).