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IMAGEM: GOOGLE

 

 

CARTA DE AMOR DECLARADO

 

 

 

Escrevo-te sem sequer saber se algum dia irás ler esta missiva. Possivelmente isso nunca irá acontecer...

 

Recordo-me quando te conheci, distante, sonhadora... vivias no apartamento ao lado do meu, varandas contíguas...

Tinhas a mesma idade que eu...

 

Quantas vezes te observei disfarçadamente, sobretudo à noite, tu olhando o céu límpido e pejado de estrelas?

Em que estarias a pensar?

 

Desconhecia que tinhas namorado, de facto só fiquei esclarecido quando te vi sair do prédio de braço dado com ele, tudo indicava que sim, muito agarradinhos...

 

Continuei a fazer a minha vida, qual lobo solitário, a rotina do dia-a-dia, trabalho, uma ou outra saída ao cinema (o meu vício) e o verão entretanto passou.

 

Um dia, ao entrar no elevador, cruzei-me contigo. Reparei no teu maravilhoso tom de pele, fruto de horas de praia e de sol, fazendo contraste com o cabelo louro e o azul dos teus olhos. Por instantes o mundo parou e tu sorriste perante o meu pasmo. Adivinhaste o meu embaraço e penso que certamente constataste que não me eras indiferente.

 

Outros dias se passaram e novamente nos cruzámos, à entrada do prédio e também no elevador. Nele dei-te passagem e o teu perfume provocou-me tonturas... Ah, como desejei abraçar-te, beijar os teus lábios com esse suave batom...

 

Tivemos outras ocasiões em que de novo estivemos nas varandas vizinhas, eu olhava-te de soslaio e ficava encantado com o teu elegante perfil.

 

Um dia, meteste conversa comigo na escada, cumprimentando-me efusivamente. Atrapalhado como eu sou com o sexo feminino, demorei a reagir, sorriste e de repente, com um sorriso maroto, perguntaste se acaso eu sabia que já não namoravas.

 

Lembras-te?

 

Caiu-me tudo ao chão, o coração disparou a mil, adrenalina injetada nas veias sem controle. Fiquei sem fôlego. Por fim, reagi e disse-te que ainda bem, fazendo-te rir à gargalhada perante o meu embaraço.

 

Mais tarde disseste-me que a minha ingenuidade te havia maravilhado, prendido...

 

Começamos a sair juntos, namorámos onze meses, nunca fizemos sexo, apenas as caricias inocentes de castos namorados, até que um dia te foste embora com teus pais. Eras filha única tal como eu e muito afeiçoada a eles.

Infelizmente não tiveste coragem para te despedir…

 

Embora tivesse ficado destroçado, entendi que tinhas de os seguir... ou talvez não, mas ainda não eras totalmente independente. Foste embora e levaste o meu coração contigo.

 

Demorei a recuperar... Será que alguma vez irei recuperar totalmente?

 

Na realidade, nunca te esqueci...

 

 

 

 

 

SHE -  ELVIS COSTELLO  https://www.youtube.com/watch?v=-fUtgcZ55sk

 

 

 

 

Ferreira Estêvão
Enviado por Ferreira Estêvão em 29/06/2023
Código do texto: T7825384
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