Caro Sr. Hyde

Venho por meio desta lhe informar que recentemente foi me trazido à tona tua existência, compartilhando a vida de meu paciente, o Dr. Jekyl. Bens sabe que o Doutor me interessa em particular, mas não te alarmes com minha declaração. De fato, dadas as recentes circunstâncias, tua narrativa me interessa muito mais.

Vês, a vida do Doutor anda bem. Entregue à carreira, ao amor, à arte, cada dia mais ele se descobre, se ergue e cresce muito bem. Não me entendas errado, fico feliz por Jekyl, e se não há mais como posso ajuda-lo, que sinta que meu dever está cumprido. Mas há relatos, relatos de sentimentos incompatíveis e tentativas de sabotagem. Numa recente briga com vossa esposa, Jekyl, sem conseguir explicar o motivo da discussão, reportou “brigar com uma parte de si mesmo”, que suponho ser você. Relata impulsos súbitos de isolamento e rompimento de relações.

Jekyl não confirma ou nega tua existência, mas bem sabes de meu misticismo. Astros e cartas apontam pra tua presença, bem como memórias profundas de comportamentos estranhos em meu paciente. Não podes mais se esconder.

E nem precisas. É contigo que desejo conversar nesse momento. Quem és? Quais teus desejos? Quais teus sonhos? O que te revolta? O que te alegra? Em que acreditas? Em que desacreditas? Gostas de música? Sentes prazer?

Não se esconda, meu caro Sr. Hyde. Você também tem o direito de existir. E o de ter seus desejos sanados. Por favor, apareça. Demonstre o que deseja. Acorda no meio da noite, escondido, pega teu papel e tua pena, e responda esta carta. Desperta, no meio da sessão, e fala teus problemas para mim. Grita por ajuda, viva, exista. Sinta a brisa do universo como tua, e levanta. Fala, que te escutarei.

Atenciosamente