Cartas para o meu Eu

De algum lugar no tempo

Willzinho:

Já faz um tempo que não te vejo. Você está bem, amado? Não me recordo a última vez que te escrevi. Sinceramente, acho que faz uns 17 anos...

Devo confessar-te que “a vida adulta” não é tão fabulosa, como você pensa. Mas, só a maturidade irá revelar isso p'ra gente. De repente, nos vemos cheios de saudade de quem já fomos um dia!

A vida por aqui, anda um tanto turbulenta, mas dentro dos trilhos. Não precisa se preocupar nem ter pressa em responder esta carta. Soube pelo Guará Negro (O sábio espírito, não o “Ossanha, traidor”, que é meio atrevido) que você está num relacionamento indefinido — ou que está amando, digamos assim. Ah, meu caro amigo, sempre as paixões inesperadas, não é mesmo? Então imagino que você deva estar bem ocupado com dilemas “coracionais” ou sentimentais, e, sei lá, espero que tudo termine bem ou, pelo menos, que você consiga levar da melhor forma possível, sem perder a cabeça com isso.

Escrevo-te estas mal traçadas linhas, jovem Will, por três motivos, principalmente.

Primeiro: falar da canção, “Exato momento” que você conhecerá em breve — uma visão sagrada do cantor Zé Ricardo sobre o que seria o “Amor perfeito”. É UM OLHAR INTENSAMENTE POSITIVO E POÉTICO — eu fiquei encantado ao ouvi-la. Muita gente discorda da essência dessa bela música (inclusive os românticos), mas, o que eu sei, é que Patch Adams tinha razão ao dizer que “A transferência é inevitável. Todo ser humano causa impacto no outro” — é um homem também que apesar dos seus métodos incomuns, na medicina, tem grande conhecimento para falar de amor. Talvez, o segredo desse sentimento extraordinário, ainda esteja aos cuidados de seus criadores “Eros” e “Afrodite” ou quem sabe está escondido nos confins dessa vida, o que é um ponto (ou muitos) a favor.

Além disso, me parece que eles esconderam algumas receitas, desse sentimento mágico, no teu livro “Alma Negra e Outras Poesias”. Espero te trazer alegria, com essa novidade literária.

O Will Guará disse que teu livro é reluzente! Eu concordo plenamente!

Uma vez você disse uma coisa inesperada, “O meu maior sonho é me tornar poeta” — e na minha opinião é exatamente isso que as pessoas não compreenderam na canção “Exato momento”: o compromisso com o seu propósito nessa existência, não é mesmo Guará vermelho?

E aqui vai o segundo motivo desta carta. Bom, estive três vezes em Choupana, fui visitar a indígena branca, que é dona do meu coração. Fizemos amor como de costume. Você precisa conhecê-la. Ela carrega nos olhos e na alma, os cinco elementos da vida: terra, água, fogo, ar e amor. Eu ficaria por meses, dias e horas fitando aqueles olhos e amando aquela guria. Não sei como aconteceu, só sei que foi maravilhosamente infinito! Não dá para contar tudo, seria assunto para uma carta de mil páginas. Mas, o que aconteceu foi que alcançamos o ponto mais alto do amor real. Agora, vivemos esse sentimento gostoso à distância, mesmo sabendo que estamos impossibilitados de amar, por conta de nossos compromissos. As pessoas não entenderiam o que acabei de te contar. Ficariam assustadas! Diriam que é perigoso amar assim. Porém, eu sei que você vai me entender. Eu sei que lá no fundo, sempre esperamos por esse momento. Ah, preciso te dizer uma coisa importante. Você terá três filhas lindas, sabia? Sim, elas são o motivo maior da sua batalha diária. A mais velha se chamará Rebecca, a do meio Clara e a mais nova Marina, por conta daquela canção de Dorival Caymmi. Isso é sensacional, não achas William C. Cruz?

Por fim, eis o terceiro motivo: a poesia. Encontrei uma poetisa chamada Verônica Moreira, mineira — acho que nunca te falei dela —, tem um livro chamado “Jardim das Amoreiras”. E tenho lido os poemas dela sempre pensando em você. Senti uma vontade de dividir contigo, mas como não posso enviar-te o livro (não me desgrudo dele), te envio esses poemas: Filosofia do amor, Logo volto, Explicando o amor, Fragmentos, Tarde demais, A poesia comigo vai, Há uma ponte, Morada do amor, Doce desejo e Expressão poética. São poemas singulares. Tem muito mais, é um livro de beleza rara, com cheiro de amora e flor de laranjeira. Verônica tem me encantado e me feito ver o mundo de um jeito singelo e diferenciado “sem muita birutice”, que existe e que a gente por mera tolice, deixou de sentir e ver.

Ah, queria te contar também de um sonho fantástico que tive em Salto: muitas pessoas, um ritual ancestral, eu experimentando rapé numa roda de cura, tinham várias cores e formas. As pessoas dançavam ao som dos tambores. De repente, entrei num estado de transe. Passei a tocar Cajon, como os mestres curandeiros faziam. Embarquei numa viagem astral, onde fui parar numa aldeia e me vi recebendo conselhos de um homem búfalo.

Em suma, acho que é isso, querido Will. Quem sabe numa próxima oportunidade, eu tome a devida coragem e resolva escrever-te novamente. Finalizo essa correspondência, deixando aquele “xêro” e abraço fraterno, dos teus eternos amigos, Will Guará, Guará vermelho e Guará Negro!

P.S. Em terra de desamor, quem tem um coração é louco! E até um dia qualquer!

Will Guará
Enviado por Will Guará em 02/06/2023
Código do texto: T7803996
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