AMIGO, IRMÃO, CAMARADA, COMPADRE

AMIGO, IRMÃO, CAMARADA, COMPADRE

Era assim que eu te saudava todas as vezes que encontrávamos pessoalmente, ou via fone, crescemos juntos a partir dos dez anos, em nosso bairro Barreira, em Jundiaí. Meu amigo Wilson, vulgo Pelé. Essa carta sei que não chegará até você, mas a intenção é que vale, não é negão? Você resolveu sair de mansinho da minha vida e de outros amigos, hoje escrevo porque a saudade bateu um pouco mais forte, aqui mais alguns amigos se foram, o Edson (Tição) o Foguinho da Arco íris, lembra? Engraçado um tição e o outro foguinho, claro que você sabe, pois já devem estar se confraternizando aí contigo.

Então, compadre outra que descansou aqui na terra é a mãe dos meus filhos, estava sofrendo, mas chega de falar de morte, muito embora você esteja nesta condição, final do ano passado fizemos o encontro anual dos amigos de infância, la no mesmo lugar, a chácara do Alemão, sinto que a cada ano diminui a participação, sempre tem alguns com a saúde prejudicada, fazendo tratamento, afinal nossa turma é tudo setentão, mas quando os guerreiros se juntam é aquela alegria que você conhece bem, e lá vem as estórias, que no mínimo já foram contadas em outros encontros passados, mas todo mundo ouve e cai nas gargalhadas de novo, acho que a “veiarada” não lembra mesmo. Compadre, to dando continuidade no nosso livro, o livro da turma da Barreira, que você e sua santa boca, disse que morreria e não veria o lançamento do livro, preciso terminar logo, se não eu vou e dou de cara contigo, e ainda vou ouvir “não falei que o livro não saia!”. Ô deixa te falar, o eterno Pelé, o jogador do século, que deve estar circulando por aí, causou grande comoção quando desencarnou. Mudando de assunto, constantemente tenho mandado umas mensagens para a comadre, e ela me diz que todos da família estão indo bem, confesso que ainda não voltei na sua casa daqui, logo vou fazer uma visita de verdade, lembra que falei que ia levar uma pessoa pra você conhecer? Então farei isso.

O nosso timão não anda nada bem, o galo nem sei que divisão está, quem deve saber é o Carlão careca, seleção então melhor nem falar. Outra coisa, Desfile de carnaval aqui na terrinha aconteceu em Abril, cê acha? E sua escola a União ficou em terceiro lugar, eu voltei para a Arco Iris e ficamos em segundo, e a escola do Serjão ganhou, aquela lá da Hortolândia, que um dia te levei num evento deles, ficamos num camarote. Negão (dizem que não podemos chamar de negão porque não é politicamente correto, quero que se dane, sessenta anos chamando de Pelé, Negão, acha que vou mudar só porque você virou estrela?), continuando, as vezes não acredito que você não ta mais aqui entre nós fisicamente, mas tenho certeza que está em lugar infinitamente melhor, se precisar de alguma coisa, da um toque por sonho, nem pensar de aparecer. Saudades meu amigo, você também era chorão, então não tenho vergonha em falar que meu “zoio” mareja quando fico lembrando da sua cara preta, dia desses estava vendo uma fotos do clube 28, uma feijoada, e tocou o samba Sorriso Negro, o senhor chorou, e os amigos Camargão, Eginaldo, seu filho Renatinho, eu claro, todos te consolando, então pra você:

Negro é a raiz da liberdade

Negro é a raiz da liberdade

Um Sorriso negro

Um abraço negro

Traz felicidade

Negro sem emprego

Fica sem sossego

negro é a raiz da liberdade

Um sorriso negro

Um sorriso negro

Um abraço negro

Traz felicidade

Negro sem emprego

Fica sem sossego

E negro é a raiz da liberdade

Negro é uma cor de respeito

Negro é inspiração

Negro é silêncio, é luto

Negro é a solidão

Negro que já foi escravo

Negro é a voz da verdade

Negro é destino, é amor

Negro também é saudade

Mas, você chorava de emoção, alegria e ao mesmo tempo se solidarizando com os negros desempregados, e aqueles sem emprego em geral, você era o cara.

A saudade é imensa por todos os amigos, e a legião de conhecidos, muita luz Wilson Felizardo!

Chorei.

Do amigo,

Jorge

27/05/2023