A PAZ ALMEJADA

O café está quente e coado. Acabei de abrir a janela e entrou um ar fresco de outono. O céu começa a clarear... Há uma paz aqui. Não só nesta casa, mas dentro de mim. Há tempos que não tenho este momento comigo mesma. De respirar profundo ar de leveza e não expirar o de preocupação.

Faz dias que não sinto dores na cabeça e nem no corpo. A alma sempre terá seus traumas, coisas dessa vida, mas nada que esteja somatizando. A casa finalmente está completamente limpa, o ar está purificado e as coisas estão em perfeita harmonia e paz. Meu filho dorme tranquilo e acabei de cobri-lo do mesmo jeito que fazia quando ele ainda era um bebê. Os passarinhos começaram a cantar... é a hora deles agora. Já, já irei regar as plantas.

Nada é de fato, exatamente do jeito como a gente quer ou imaginou que seria. Sei que as intempéries da vida virão, como chegam e sempre pelos mesmos enfadonhos motivos que é a mesquinhez presente no coração humano. Os problemas lá de fora, ficam lá fora. As dores de cabeça não chegam mais aqui dentro, nem da casa, nem da minha cabeça. Continuo evitando ao máximo ver pessoas. Saio na rua só quando necessário. É quase impossível achar um ciclo de pessoas que agregue valores de verdade. Que fale o essencial, que não pesa.

Entendo que todos possuem seus fardos, mas aumentam os números daqueles que ainda tiram proveito do pouco espaço de paz que ainda resta no outro. Por isso, continuo evitando as pessoas. Somente as necessárias. Até o presente momento, nenhuma importante, somente necessárias.

No açougue basta um “boa noite”, no sacolão um “estou bem, obrigada” e na padaria me limito a “quando deu mesmo?” Sou minha própria manicure, cabeleireira e esteticista. Sei que é um mundo isolado, que a interação é importante, mas o que podem me oferecer não se encontra na categoria de coisas que preciso.

Agora preciso aproveitar e continuar a ouvir o canto dos pássaros, tendo em vista que um touro raivoso e desgovernado vem vindo em minha direção.