Incertezas
Eu gosto da vida que você leva dentro de mim, das cenas imaginadas, que pouco tem a ver com as verdades vividas entre nós. Afinal, a fantasia é mais presente em nossas vidas do que a realidade.
Eu tenho que encarar o fato de que as coisas reais são apenas o fermento que fomenta a minha imaginação. Embora exista, você é apenas um sonho que perdura, persiste em meu coração. Eu volto ao lugar de sempre a procura dos teus versos, querendo me encontrar nas tuas palavras, pois eu não me convenci de que elas falam de mim. Parecem apenas palavras, vazias, que não fazem sentido para mim. Talvez um mero desabafo, o vomitar de uma angustia passageira, que uma vez derramada, traz alívio para a alma.
Perdoe a minha rudeza, o rigor do meu julgamento, a frieza dos meus argumentos. Não posso mais suporta-la a fugir dos seus sentimentos, e me deixando sem graça a cada vez que te abro o meu coração.
Recordo-me que, certa vez, você me propôs um amor faz de conta.
É triste constatar que você tem mais lucidez do que eu. Talvez, sensatez seja a palavra adequada. Creio que eu deva te agradecer por nada ter dado certo entre nós. É certo que ninguém ama sozinho. Entre dois, ambos se amam mutuamente. Mas é certo, um ama mais do que o outro. Há aquele que perdoa mais, enquanto o outro não se entrega completamente. A relação sofre com os fantasmas de outros amores, das decepções e dores, que fazem do coração um antro de incertezas, que fazem do amor uma delícia vivida pela metade, com desconfiança.
E confiança é fundamental no amor, a entrega incondicional. Porém entre nós não é assim.
Só me resta me contentar com a vida que você leva dentro de mim. Ela é mais real do que você imagina. As cenas imaginadas são a nossa única realidade, aquela que permeia os meus dias sem você. Ser intocável, inatingível.
Fique eu com a minha fantasia, a única forma ter você todos os dias da minha vida.
De toda forma, enfim, eu gosto vida você leva dentro de mim.