CARTA DE UM MENINO
Estava eu quieto, lendo, quando o carteiro passou. Me entregou um envelope, abri, era uma carta. Uma carta de um menino que ainda mora na cidade onde nasci. Lá estava, ao fim do texto da carta, o nome dele. Era filho de um amigo meu. Me pedia que eu reescrevesse o que ele me narrava. Me narrava em mal traçadas linhas. Me comovi. Nesses tempos tão áridos de sentimentos puros, um menino me escrevia. Não pensei mais. Li a cartinha que ele me escreveu.
Não vou revelar o nome do menino. Não vem ao caso. Ainda mais que a minha amizade com o pai dele, é coisa muito minha. Mas vamos ao assunto.Me contava ele que a avó dele estava acamada. Vítima de um câncer de que ela fora acometida. Os seus pais, do menino, numa determinada noite, saíram de casa cedo. E recomendaram ao menino que ele ficasse quieto em casa. Os dois pais do menino só voltaram tarde da noite. E o menino estava em seu quarto. Ninguém pode dizer que as crianças não se preocupam. Ainda mais com as pessoas que são mais próximas, quanto mais com uma pessoa da família.
O quarto do menino ficava colado ao de seus pais. E de sua cama, o menino pode ouvir a conversa deles. E o menino soube que sua avó falecera. Ele não chorou, conforme ele me relatou na carta que recebi.
Na manhã do dia seguinte, os pais o puseram a par do falecimento. O que ele fez? Dono de uma fé enorme, e católico, saiu de casa em silêncio. E se dirigiu à igreja. Entrou no templo, sentou-se discretamente num banco, e orou uma missa pela alma de
sua avó. Nesse pondo da minha leitura da singela cartinha do menino, não vou esconder, me arrepiei. De emoção. Uma emoção de ver que ainda existe neste mundo um sentimento enorme de pureza. Disse:
- Deus conserve!
Uma lágrima rolou também de meus olhos que havia muito tempo eram secos. Da secura habitual minha que eu julgava que me proibiriam de chorar. Vi que eu estava errado. Escrevi até aqui atendendo ao pedido do menino. E emendo: atendi julgando estar à altura de atender tal pedido.
E por minha vez, sai de casa e fui para a igreja da minha cidade. Que naquele momento estava vazia. Me ajoelhei e pus as mãos juntas e rezei pelo menino. Pedi a Deus que o menino fosse atendido no que eu pedia por ele. Bençãos infinitas. Tirei uma cópia deste escrito antes de vir aqui. E ao sair da igreja, depois que eu rezei, me dirigi aos correios. A cópia que eu tirei deste escrito deve estar viajando em forma de resposta ao menino. Espero que ele se alegre ao ler o seu pedido atendido. E intitulei este texto de CARTA DE UM MENINO. Espero ter feito bem.