Carta sobre a palavra Igreja (instituição)

Encontrei nos meus guardados uma pequena carta datilografada sem data, mas certamente dos anos 80 ou 90. Deveria ter sido enviada para o jornal "O Globo", mas como é um original datilografado parece que não chegou a ser enviada, a não ser que eu tenha mandado cópia a carbono ou xérox. Mas creio que não foi publicada, tendo em vista o seu teor. Eis o texto:

"Noto que há vários meses este jornal vem grafando a palavra "Igreja" (instituição) com inicial minúscula, como se faz com "igreja" (templo). Isso está ocorrendo mesmo em textos assinados, inclusive os artigos de Dom Eugênio Sales, e tenho certeza que o Cardeal escreve a palavra com inicial maiúscula. Ora, o nome da instituição Igreja tem que ser escrito com I maiúsculo; caso contrário configurar-se-á o anticlericalismo."

Eu conhecia pessoalmente Dom Marcos Barbosa, do Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro, o "monge poeta" como o chamavam e tradutor de "O Pequeno Príncipe". Naquele tempo Dom Marcos e o todo-poderoso diretor-presidente de "O Globo", Roberto Marinho, haviam entrado na Academia Brasileira de Letras. Fui então falar com Dom Marcos e pedi que ele se dirigisse pessoalmente a Roberto Marinho, expondo o problema, já que agora eram colegas na ABL.

A resposta de Dom Marcos me surpreendeu. "Ele não fala comigo." Note-se que Dom Marcos sempre usava batina e o jornalista com certeza sabia de quem se tratava. Dom Marcos confidenciou-me que Roberto Marinho aparecia pouco na ABL e interagia com uma turma de seus amigos por lá, ficava em sua "majestade". Ou trocando em miúdos, ficava "na dele" e não se dignava dirigir a palavra ao sacerdote. Dom Marcos era de opinião que reclamações de leitores como eu, através de cartas, era melhor recurso.

E no entanto o presidente de "O Globo" se dava com o Cardeal Eugênio Sales.

Eu creio que de um jeito ou de outro o problema acabou sendo corrigido. Depois parei de ler "O Globo", jornal que hoje me dá nojo, não sei como se referem hoje à Igreja Católica.

Nota: só estou contando essa experiência porque as pessoas mencionadas já faleceram.