Lenna
Clarice Lispector já dizia:
A vida não é de se brincar porque em um belo dia
"se morre"...
E você morreu Lenna como outros também morreram... Não sei o porquê mas está realmente difícil para papear agora, depois de oito horas de trabalho. Não tem mais a sua companhia naquela cadeira macia feita de um enorme toco deitado sob uma aroeira na porta de sua casa. Sentávamos ali e esperávamos o luar chegar. Nossos esposos jogando baralho e murros na mesa ao campear um bezerro no truco vale seis. Tanto caso surgia...Casos bobos que arrancavam gargalhadas de nós mesmas. Vez por outra, colegas se juntavam. Aqueles seus sorvetes caseiros então...
Quase sempre, já saía da escola virando a esquina, não para minha casa, mas para a sua. Por sorte fazia parede e meia com a escola, falávamos até por cima do muro, lembra?
Agora, paro na esquina, dirijo o meu olhar para a sua casa e observo a cadeira (toco) vazia. Casa solitária, tudo lacrado. Sinto que está ali sentada com uma nova estória sobre o baile passado. Só ilusão de ótica. Sei que não falaremos mais, você se foi. Custo a acreditar.Se foi fisicamente amiga, porque lhe vejo em cada canto da minha casa; até dentro do carro parece-me que está sorrindo ou conversando, quando estou a dirigir. Amizades verdadeiras são raridade. Você está até nos meus sonhos. Acredita que neste último você me convidava em silêncio para eu lhe acompanhar? Não concordei e então, com outro sorriso, a sua imagem foi andando devagarzinho, rumo ao horizonte, flutuando cada vez mais alto, até sumir. Sonho lindo! O seu vestido amarelo, aquele que você gostava, parecia reluzir de leve.
Será que no céu as pessoas se vestem de amarelo? Por aqui meus olhos se vestem de lágrimas.
“A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar
duram uma eternidade”. (Clarice Lispector)
Juraci de Oliveira
Pirapora MG
www.jurainverso.kit.net