Carta ao JB sobre pornografia
CARTA AO JB SOBRE PORNOGRAFIA
Miguel Carqueija
Carta redigida em 9 de março de 1991 e endereçada ao Jornal do Brasil (Rio de Janeiro). Não recordo se foi publicada.
Um dos fenômenos mais alarmantes do mundo atual — inclusive no Brasil — é o desmazelo da autoridade em relação à moral de costumes, a tendência de deixar correr solta a pornografia.
Sob o argumento bocó de que “não existe mais censura” pretende-se que tudo é permitido no cinema, na televisão, no vídeo, nas bancas. Devemos porém refletir nas graves consequências que a permissividade traz para o tecido social. Essas consequências são fáceis de enumerar. É óbvio que a pornografia (que não é apenas anedotário sujo do Costinha, mas exploração explícita de aberrações) estimula a libertinagem, a promiscuidade sexual, com todas as suas sequelas: difusão das doenças venéreas (inclusive aids), abortamentos, crescimento do número de mães solteiras e crianças abandonadas, infidelidade conjugal, corrupção de menores e, finalmente, aumento dos casos de estupro, inclusive contra crianças. Em sua forma mais virulenta a pornografia explora a violência sexual contra mulheres, crianças e até animais. É sabido que estupradores-raptores (desses que, desobedecendo ao Maluf, estupram e matam) gostam de assistir fitas pornográficas, já que não têm outra coisa na cabeça. Então eu pergunto: não será um ônus muito pesado para a sociedade, consentir na pornografia com base num conceito deformado de liberdade?