Uma carta nunca enviada

Olá.

Tudo bem? Espero encontrá-lo bem.

Já faz muito tempo que não nos falamos e/ou trocamos qualquer palavra, e é possível que nunca consigamos estabelecer qualquer relação ou ligação.

Em algum momento de nossa história minamos o terreno, construímos muralhas e destruímos pontes.

Faz-se necessário assumir que as vezes as coisas quebram, de tal modo que não há conserto. Por isso, eu não pretendo em poucas palavras apagar a história, reescrevê-la e edificar um futuro.

É difícil depois de tanto tempo pensar em algo que não seja tudo que foi perdido durante as nossas caminhadas, todas as ausências e lacunas em momentos importantes. Memórias adquiridas em que falta algo, alguém, uma presença. Estas são marcas com as quais precisaremos conviver, aceitar e colher suas consequências.

Afinal foram escolhas tomadas, talvez tomadas na embriaguez dos sentimentos passionais, do orgulho, medo e raiva.

Existem momentos em que faltam palavras, principalmente com alguém que não conhecemos, que não permitimos conhecer.

O silêncio dilacera os alicerces que fincamos em certezas absolutas da cegueira do desconhecimento.

Não há justificativas para uma vivência de rupturas, rigidez cognitiva e comportamental. Trata-se, apenas, de uma forma de encarar a vida e as relações sociais, que traz sofrimento, angústia e ansiedade.

Por este motivo, eu não espero, com isto, redenção, perdão ou, muito menos, uma resposta.

Trata-se unicamente do esvaziamento da alma, de dizer o que não pode ser dito por anos a fio e ficou engasgado em um suspiro no fundo do amago.

“Uma ternura preencheu meu coração. Minha heroína seria eu, só que disfarçada.” (Sylvia Plath, "A redoma de vidro")

Otto Stenke
Enviado por Otto Stenke em 03/03/2023
Código do texto: T7732190
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