Uma carta nunca enviada
Olá.
Tudo bem? Espero encontrá-lo bem.
Já faz muito tempo que não nos falamos e/ou trocamos qualquer palavra, e é possível que nunca consigamos estabelecer qualquer relação ou ligação.
Em algum momento de nossa história minamos o terreno, construímos muralhas e destruímos pontes.
Faz-se necessário assumir que as vezes as coisas quebram, de tal modo que não há conserto. Por isso, eu não pretendo em poucas palavras apagar a história, reescrevê-la e edificar um futuro.
É difícil depois de tanto tempo pensar em algo que não seja tudo que foi perdido durante as nossas caminhadas, todas as ausências e lacunas em momentos importantes. Memórias adquiridas em que falta algo, alguém, uma presença. Estas são marcas com as quais precisaremos conviver, aceitar e colher suas consequências.
Afinal foram escolhas tomadas, talvez tomadas na embriaguez dos sentimentos passionais, do orgulho, medo e raiva.
Existem momentos em que faltam palavras, principalmente com alguém que não conhecemos, que não permitimos conhecer.
O silêncio dilacera os alicerces que fincamos em certezas absolutas da cegueira do desconhecimento.
Não há justificativas para uma vivência de rupturas, rigidez cognitiva e comportamental. Trata-se, apenas, de uma forma de encarar a vida e as relações sociais, que traz sofrimento, angústia e ansiedade.
Por este motivo, eu não espero, com isto, redenção, perdão ou, muito menos, uma resposta.
Trata-se unicamente do esvaziamento da alma, de dizer o que não pode ser dito por anos a fio e ficou engasgado em um suspiro no fundo do amago.
“Uma ternura preencheu meu coração. Minha heroína seria eu, só que disfarçada.” (Sylvia Plath, "A redoma de vidro")