Tremores em Santiago 03
31.12/95
Muito ao Sul. Mais ao Sul do que nunca estive. Sérgio Reis cantando. Um friozinho de Belo Horizonte, anos 70, quando tudo era triste. Casa da minha tia, mas hoje é Santiago do Chile.
Mais ao Oeste. Mais ao Oeste do que nunca estive. Queria falar com meu pai, liguei, ninguém atende. A casa é um deserto. Falta o centro. O friozinho do verão chileno. Não é o tempo todo. Pelo contrário. Faz muito calor. 31 graus. Mas à noitinha (o sol se põe por volta de 9:15) faz friozinho. Meu pai chegando do Fórum. O perfume do seu paletó. Seis da tarde.
As árvores das ruas todas decoradas. Luzes pequeninas em quase todas. América do Sul. O segundo país que conheço. Colo Colo. La "U".
Depois da "siesta". O calor nas ruas é insuportável. Imagine o frio, que chega a -2 em julho/agosto. Os edifícios de vidro refletem o sol e a claridade cega.
O personagem de Hernando Cardona morreu numa esquina da Praça do Palácio la Moneda. Via os guimbas de cigarros no chão e, enfraquecido, mal podia levantar a cabeça. Havia insetos e lixo na frente dos seus olhos, hiper dimensionanados pela hora da morte. O Palácio estava em chamas, os tiros espoucavam aqui e ali, os helicópteros sobrevoavam o Palácio.
O livro de Tabajara Ruas também falava de Santiago. O motivo era um encontro de um cearense, um nordestino, enfim, com um outro latino em Santiago. O nordestino atravessa o continente de carro, cruza os Andes, chega aqui. "O Amor de Pedro por João".
Em Montevidéu, ano passado, as poças d'água não secavam. O ar é muito úmido. A poça d'água da esquina da 18 de Julio com a rua Convención nunca se alterou enquanto estive lá. E não é que chovesse muito. Eu passava as tardes no hotel, olhando tv ou admirando os pombos voando no pátio interior, todo cinzento, um quadrado constituído de velhos edifícios.