IMAGEM GOOGLE :
HUGH GRANT E EMMA THOMPSON NO FILME SENSIBILIDADE E BOM SENSO
SERÁ QUE O ROMANTISMO ESTÁ MORIBUNDO?
JÁ NÃO SE ESCREVEM CARTAS DE AMOR...
Minha idolatrada amiga Elisabeth:
Escrevo-lhe com o fervor de alguém que muito lhe quer, que morre de saudades por cada dia que passa e não pode contemplar sua beleza. Mil vezes tentei e mil vezes rasguei o papel, o escrito não estava à altura dos meus desejos…
Ontem, na ópera, estive no camarote ao lado do seu e dividi a minha atenção entre o “Tristão e Isolda”, que já presenciei mais que uma vez mas sempre me seduz, e olhá-la de soslaio… Confesso que foi um pretexto para a ver, disfarçadamente é certo, não quero que alguma coisa que faça a possa melindrar… Penso que também não lhe sou indiferente, olhou-me algumas vezes e o seu sorriso deu-me asas para sonhar…
No intervalo, muito discretamente, os meus dedos roçaram os seus na altura em que nos cruzámos no espaço apinhado de gente… Perdoe a ousadia…
Acredite, nessa altura, se a tivesse nos meus braços, não me importaria com mais nada, pegar-lhe-ia ao colo e fugiria consigo para o Essex, depois para mais longe, atravessaria a Mancha e ficaríamos numa pequena cottage na Normandia, que é pertença de meu primo Charles, seu conhecido. Ele, tal como eu, somos de ascendência francesa.
Sei que adora a vida mais social, por razões óbvias tenho muitos contactos em França, Napoleão já caiu e agora são os Bourbons que dominam. Se quiser podemos inclusive viver em Paris, cidade luminosa e plena de agitação.
Ah… Que tolo sou! Desde que a conheço só penso insensatamente em si, esquecendo que está noiva… Será que o ama como eu gostaria que me amasse? Acaso imagina o amor que lhe tenho, aquilo que por si faria? Até voaria, se acaso tal fosse possível… Até seria Ícaro e por um beijo seu me despenharia no mais alto promontório… Tolices de apaixonado… Perdoe a minha loucura.
Quando a verei de novo? Espero que seja em breve.
Esta curta missiva vai pela mão do meu fiel criado Thomas, que só a entregará a Genevieve, sua criada e confidente. Guarde-a junto ao coração e escreva-me, mesmo que na resposta não vá ao encontro dos meus simples desejos. Amo-a muito, muito mesmo, Deus é disso testemunha.
Aqui estarei para sempre a seus pés, deusa do meu encantamento.
Eternamente seu,
Londres, 24 de Outubro de 1854
Jerôme Saint Clair