Carta ao Vazio
Em silêncio te saúdo e, com a dor que nunca esquecemos, abraço teu corpo sem forma.
Meus passos distantes tentaram chegar ao fim do túnel no encalço de uma ilusão tão verdadeira que me ardia o peito. Mas, como um delírio febril, minha certeza evaporou no suor e na angústia. Tentei passar como o tempo, que sempre segue em frente sem jamais voltar; tentei me esculpir uma armadura de fraquezas e erros, mas fui ao chão com tamanho peso.
E cá estou eu, buscando teus olhos à beira do precipício que tanto amo. Não há mais miragem que desvaneça o fel que nos une e que venha o mais puro prazer da solidão e a convicção da falta de desejo.
Eu enxergo melhor de olhos fechados, sinto melhor o teu rosto na escuridão.
Agora, que me ceguei, o nosso caminho reluz sem remorso.
É chegada a hora de sermos o que nunca deixamos de ser.
Eu e você dançando no precipício.