Ao passado
Em algum lugar do passado.
Ao estranho, amigo e inimigo, Tempo.
Olá, meu querido companheiro! É sempre bom estar contigo, mesmo que tantas vezes tenha me causado dor, e ainda hoje, muita saudade.
Senti uma vontade imensa de falar com você. Um lindo desejo de revisitar meu passado só pra sofrer um pouco. Sabes bem que aprendi a amar a dor da saudade. Deve ser coisa de poetisa. Faço questão de estar em constante contato com minhas fases e faces, para nunca esquecer que você, teimoso tempo, é sempre implacável. Não se importando com as feridas, com os corações ou com as saudades, segue. E o faz com tamanha maestria que fica impossível para nós refutá-lo.
Sabe, sempre que tento voltar ao passado, percebo que isso é um erro, pois ele não está mais como deixamos. Apesar de nos afetar ainda, ele não é capaz de mudar quem somos agora. Sinto que é uma ação dolorosa tanto quanto inútil, se re-buscar onde nos deixamos. Sinto tanto pelos amores que ficaram lá. Alguns foram tão lindos e intensos e inesquecível que dá uma dó imensa não tê-los vividos. Para esses eu só queria a oportunidade de dar-lhes, quem sabe, um longo beijo de despedida. E os abraços jamais sentidos? Os corpo que não nos permitimos tocar, os cheiros, o suor, o som da voz. As poesias que não ousei escrever, ou que deixei escondida. Ou pior, as poesias que deixei rasgar. Sabe, muita coisa já aconteceu em minha vida, querido tempo. Mas, de tudo, meu arrependimentos vem do que não me permiti viver.
Ah... meu companheiro, tanto fui avisada para não se importar tanto com a moral e seguir os desejos do meu coração, e nunca tive coragem para ouvir. Hoje não sou ressentida, amarga ou infeliz. Não sou! Ao contrário, amo a vida com verdadeira admiração. Porém, tenho muita saudade do que não vivi. Um amor imenso por minhas grandes paixões, e uma dorzinha crônica e gostosa bem no meu coração, que me faz suspirar com o som da chuva e chorar baixinho ao olhar a lua.
Termino, sem findar, te dizendo que sou grata por tudo que me permitiu sentir ao longo dos meus dias. Por cada emoção vivida e por todas as vezes que meu coração se apaixonou. Pelos arrepios... corpo trêmulo... respiração ofegante... sorrisos só, lembrando dos amores vividos.
Com carinho, da tua sempre apaixonada, Flor de Cactos do Sertão.