APESAR DE TUDO, VENCI
Foi em meados de 2004 quando o conheci. Estava ali no salão de musculação onde treinava de segunda a sexta, quando ele entrou olhando para mim. Lindo, corpo atlético, aparentemente sociável e extrovertido.
Fizemos amizade muito rápido. Gostei bastante da sua abordagem. Passados alguns meses e já estávamos frequentando a mesma igreja como se fôssemos melhores amigos. Por alguns momentos fui feliz, até que com o passar dos tempos as coisas começaram a mudar.
Ele era empresário e decidiu que era hora de ampliar o negócio. Precisaria de uma recepcionista. Naquela época eu estava desempregada, obviamente foi me oferecida a vaga. Aceitei na hora trabalhar com ele. O mar de rosas que achei que seria foi pura ilusão. Nos primeiros meses comecei a sentir a diferença. Ele desconsiderou toda nossa amizade e passou a tratar-me apenas como sua funcionária. Na frente das pessoas eu era apenas Paula. A sóis era irmãzinha, forma carinhosa com que me tratava. Esta situação deixou-me confusa e triste. Às vezes, quando precisava de mim, através das manipulações, sempre conseguia o que queria. Passei a ser uma fantoche nas mãos dele, aceitando todas a migalhas que me era oferecida. Carente de afeto, deixei-me influenciar por suas investidas malignas.
Após dez anos de submissão, manipulação e humilhação resolvi reagir, estava cansada de tudo aquilo. Não foi fácil. Todas às vezes que tentava me libertar, ele vinha e fazia sentir-me culpada de tudo, por isso acabava ficando na mesma. Mas, dentro de mim, ansiava por liberdade e fuga. Foi quando tomei uma decisão, pedi demissão. Para o João, foi uma tremenda surpresa. Demonstrou estar chateado, porém, não fez objeção. Apesar do pedido de demissão, as minhas forças tinham sido sugadas por ele. Saí do emprego, todavia, não da sua vida. De alguma forma ele dava um jeito de me trazer de volta. Passei a fazer pequenos serviços, como a faxina do prédio de dois andares sozinha.
Aos poucos, mesmo sem forças, supliquei por um milagre. Sou cristã, passei a orar constantemente por coragem e forças para sair antes que fosse tarde demais. A partir daí, incrivelmente, passei a enfrentá-lo. As desculpas eram constantes. Sempre estava ocupada para ele. E assim, fui afastando-me cada vez mais.
Quando um narcisista percebe que as manipulações e influências dele perderam poder sobre a oprimida, ele passa a fazer-se de vítima, alegando traição e injustiça.
O João percebeu que eu não seria mas seu fantoche. Num momento de insanidade acusou-me de traidora e mal agradecida. Não me deixei ludibriar. Tivemos uma discussão feia. Em outros momentos, eu baixaria a cabeça, choraria e no final ainda pediria perdão. Contudo, não tive medo, enfrentei-o com todas as minhas forças. Saí de cabeça erguida para nunca mais voltar.
Hoje não me sinto mais oprimida, muito pelo contrário, sinto-me livre. Depois de ter convivido com um narcisista, aprendi que a valorização pessoal e a autoestima devem estar à frente de qualquer pessoa. Com a ajuda de Deus e das terapias consegui reaver minha autoafirmação.
Como diz a Bíblia se você não se amar, será incapaz de amar o próximo. Priorizar a liberdade também faz parte.
Débora Oriente