Minha mãe 1 - Divinum est sedare dolorem
Eu tenho que copiar aqui a carta que escrevi para minha mãe antes de ela morrer. É muito difícil...
Tenho que voltar ao tempo e resumir as várias internações e os sofrimentos e injustiças que presenciei - coisa também dificílima.
Ela tinha insuficiência cardíaca grave, uma obstrução no duodeno por um câncer no pâncreas inoperável, um câncer invasivo de tireóide, tudo fazendo parte de uma síndrome chamada Neoplasia Endócrina Múltipla – NEM II – doença genética.
Minha mãe ficou por vários meses, até o último dia de sua vida, sem andar, com drenos - um dreno nas vias biliares, que precisava ser lavado e desobstruído duas vezes ao dia e um outro para hemodiálise, na virilha. Seu coração era muito fraco e fez parar o rim. Tudo complicou ao mesmo tempo.
Sofria amargamente de falta de ar, principalmente nas descompensações do coração (edema agudo de pulmão), geralmente quando fazia qualquer esforço ou tinha febre. Qualquer coisa era motivo para passar mal. Minha casa era um CTI e eu era a enfermeira, a médica e a filha. Chamavam-me de neurótica.
Tive amigos médicos que foram meus verdadeiros parceiros: Expedito e Denise Gammaro, Eduardo Flores, Heitor Castro Júnior e outros, também muito queridos. Foram incansáveis, tanto como médicos, quanto como amigos.
Expedito e Denise estavam sempre alertas e prestativos para qualquer necessidade durante as 24 horas do dia. Não faltaram palavras de apoio e seus serviços profissionais sempre foram de grande ajuda, principalmente pela qualidade e competência.
Eduardo, com seu jeito turrão de general, me empurrava para enfrentar aqueles médicos idiotas. Dava dicas e me dizia o que estava certo e errado. Isso me ajudou muito, pois, ele sabia que eu não era louca nem burra, me ensinado tudo o que eu precisava saber para não deixar os outros falharem.
Heitor, ah, este foi o anjo que estava conosco em todas as horas, todos os dias, em cada detalhe, nas condutas médicas impecáveis. O danado peitava até os chefes de serviço e fazia valer o que sabia e estava correto.
Minhas pacientes eram solidárias e, mesmo tendo largado minha vida profissional por quase um ano, elas me ligavam, me consolavam e me davam forças.
Eu tive que arranjar médico para cada paciente e tive que manter um consultório fechado, com todos os gastos, porém sem nada render, apenas para servir de plantão, a fim de encaminhar as doentes e conseguir, no futuro, reunir estas pacientes de novo.
Mairá, uma paciente que se tornou uma de minhas melhores amigas, estava grávida. Ela é que ia fazer meu “pré-natal” lá nos hospitais, me levando lanchinhos e me dando apoio. O “Pré-Natal” da futura Leila.
No dia em que entrou em trabalho de parto (estava combinado de eu participar), eu e uma equipe estávamos tentando tirar minha mãe de uma parada cardíaca, que foi bem sucedida.
Mairá, aqui, simboliza as várias pessoas que me deram força, me respeitaram e me admiraram. Muitas Mairás estiveram comigo, mais que muita gente da família.
No Ano Novo de 2002 para 2003 minha mãe estava semi-consciente devido à insuficiência renal aguda. Os médicos tentavam evitar que precisasse entrar numa máquina de hemodiálise e não sair mais.
Só que pessoas que poderiam ficar comigo resolveram passar o Reveillon sei lá aonde... A lua foi minha companheira neste Ano Novo e eu chorava baixinho para ninguém ver.
Deste dia até sua morte, se passaram muitos meses, com reinternações e muito sofrimento, tanto físico quanto psicológico. Eu sabia que ela iria morrer, e, por isso, teria que me empenhar o tempo que fosse necessário, para lhe oferecer o menor sofrimento possível.
Eu era incansável. Cheguei a ficar setenta e duas horas em pé, sem deitar. Não fazia as unhas – cortava com tesoura, tal qual meus cabelos, em frente a um espelho vagabundo de hospital.
Tive que enfrentar dezenas de médicos imbecis, arrogantes e ignorantes, que não entendiam metade do que eu aprendi com o sofrimento dela.
Lembro agora de uma vez em que um medico num CTI aí, teimou que ela não estava fazendo uma crise de edema agudo de pulmão naquele momento. Eu sabia direitinho como era. Ele sentou no sofá em frente a ela e se negou a medicá-la pra isso, independente de eu estar alertando para o que estava acontecendo. Ele apontou os pezinhos para o chão, com uma prancheta do colo e começou a escrever, olhando de vez em quando para os monitores, até ter certeza com os próprios olhinhos do que eu estava dizendo.
Eu dependia daquela gente. Se estivesse em casa já teria medicado. Estava dentro de um hospital de ponta, com toda a aparelhagem necessária para qualquer intervenção e com um idiota tomando conta dela. Eu parecia uma leoa naquele lugar.
Aí, foi um horror, um horror, nem conto. Minha mãe teve a maior crise respiratória de sua vida.
Eles tiveram que me aturar por muito tempo, mas eu aturei muito mais daquela gente.
Um dia, o chefe do CTI me chamou para fazer perguntas e me ameaçar a não entrar mais naquele CTI, pois eu estava atrapalhando.
Eu desfilei para aquele cara um rosário de irregularidades que eu presenciei e que merecia um processo para cada uma.
Se não fosse minha interferência, com certeza, minha mãe teria morrido em várias ocasiões. Mesmo aos cuidados de várias pessoas, ela teria sofrido muito mais que sofreu, tanto no corpo, quanto na mente.
Conheci muita gente boa, dentre médicos, enfermeiras e auxiliares, mas, também, vi enfermeira formada em faculdade ousando colocar comadre cagada em baixo de minha mãe, só porque tinha nojo ou preguiça de limpá-la – talvez até não tivesse noção de higiene.
E não tinha nenhum pudor em ser grosseira e desaforada. Era o desespero que me dava forças e me fazia ir em frente, a despeito do cansaço e das tragédias que se sucediam.
Até que ela teve que internar para não mais voltar. Eu sabia que era a última internação. O tumor estava obstruindo seu estômago e o coração não aguentava mais.
Nesta época, eu estava em total conflito com as pessoas que moravam comigo, ditas da família... Eu me sentia sozinha, mas, forte, porque sabia muito bem o que fazia e porque fazia. Mas, eu sabia que tudo ia passar e eu tinha que passar por aquele inferno em função de minha mãe.
Até que chegou o dia, lá no CTI: Ela me olhou e falou que estava tendo uma dor horrível no peito – seu coração falia. Era irremediável e a equipe - graças a Deus, uma equipe maravilhosa de médicos, agora num CTI muito legal, do Dr. Yvo Perrone, agiu rapidamente.
Era preciso sedá-la para parar seu sofrimento. Qualquer tentativa de reversão seria heróica e cruel, sem o menor propósito médico ou religioso. Apenas sedá-la, parar com todos os tratamentos e a deixar morrer em paz.
Fora decidido numa junta médica e com a minha permissão, o que teria que ser feito. Ela se debatia com as enfermeiras, reclamando que queria sentar e me olhou com aquele olhar de cachorro abandonado, me dizendo: “Leilinha, me tira esta dor. Que dia horrível”.
Eu me abaixei ao seu ouvido e avisei: “Mãe, a gente vai te dar um remedinho que vai passar totalmente sua dor. Eu te amo.”
Ela me respondeu que me amava muito, mais do que eu poderia imaginar.
Não aguentei ver. Saí e deixei os médicos atuarem: sedar e entubar para oxigenação mecânica. Ela ainda durou dois dias sem qualquer tratamento, sem alimentação, sem nada, apenas oxigenando e hidratando, com monitores e tubos em vários lugares do corpo. As auxiliares faziam a higiene no leito e eu trocava, em vão, os curativos. Andava pra lá e pra cá, esperando a morte que não vinha.
As horas mais amargas de toda a minha vida, até então. Eu pedia a Deus que a levasse logo. O meu papel estava terminado e eu queria descansar.
Eu pensava o tempo todo para onde iria a sua alma, que estava abandonando aquele corpinho magro. Então, eu vi o monitor mostrar os últimos batimentos de seu coração. Eu não olhava para ela, apenas me dava conta que sua alma já tinha ido. Era hora de desligar as máquinas.
Eu ouvia uma música na minha cabeça o tempo todo, que eu escutei muito durante minha vida. Aquela música estava me incomodando - um fado que ela gostava de cantar.
Minha mãe morreu em 9 de julho de 2003. Eu não fui ao enterro. Fui pra casa, dormi muito, descansei e comecei a resolver as coisas pendentes do que tinha sobrado da minha vida.
Anos de sono acumulado em uma só noite me pediam recompensa.
No dia seguinte, eu comecei a arrumar meus trapos e larguei tudo pra trás. Fui viver sozinha, mas em paz.
Uma semana depois, nas coisas dela, eu achei uma cartinha que ela tinha escrito. Falava assim:
“Hoje morre a Lola! Sabe quem era? Talvez ninguém. Morreu pobre e triste e deixa uma filha idolatrada, que se chama Leila. Ela vai sofrer porque perdeu o maior bem – o amor de mãe.
Esta voz sentida e quente, que a terra disse adeus. Parti pra sempre, vencida, deixando a vida que me fez chorar”.
Logo abaixo, ela copiou exatamente a letra que eu lembrara na hora de sua morte:
“É por vontade de Deus que vivo nesta ansiedade.
Que estranha forma de vida tem este meu coração.
Coração independente, coração que não comando, eu não te acompanho mais. Pára, deixa de bater”.
Agora o meu corpo está todo doído, como se eu estivesse com uma enorme febre. Não consigo mais teclar.
Outra hora eu transcrevo para o meu computador a carta que eu fiz para ela horas antes de sua morte.
Vou ver TV...
Leila Marinho Lage
Outubro de 2005
Eu tenho que copiar aqui a carta que escrevi para minha mãe antes de ela morrer. É muito difícil...
Tenho que voltar ao tempo e resumir as várias internações e os sofrimentos e injustiças que presenciei - coisa também dificílima.
Ela tinha insuficiência cardíaca grave, uma obstrução no duodeno por um câncer no pâncreas inoperável, um câncer invasivo de tireóide, tudo fazendo parte de uma síndrome chamada Neoplasia Endócrina Múltipla – NEM II – doença genética.
Minha mãe ficou por vários meses, até o último dia de sua vida, sem andar, com drenos - um dreno nas vias biliares, que precisava ser lavado e desobstruído duas vezes ao dia e um outro para hemodiálise, na virilha. Seu coração era muito fraco e fez parar o rim. Tudo complicou ao mesmo tempo.
Sofria amargamente de falta de ar, principalmente nas descompensações do coração (edema agudo de pulmão), geralmente quando fazia qualquer esforço ou tinha febre. Qualquer coisa era motivo para passar mal. Minha casa era um CTI e eu era a enfermeira, a médica e a filha. Chamavam-me de neurótica.
Tive amigos médicos que foram meus verdadeiros parceiros: Expedito e Denise Gammaro, Eduardo Flores, Heitor Castro Júnior e outros, também muito queridos. Foram incansáveis, tanto como médicos, quanto como amigos.
Expedito e Denise estavam sempre alertas e prestativos para qualquer necessidade durante as 24 horas do dia. Não faltaram palavras de apoio e seus serviços profissionais sempre foram de grande ajuda, principalmente pela qualidade e competência.
Eduardo, com seu jeito turrão de general, me empurrava para enfrentar aqueles médicos idiotas. Dava dicas e me dizia o que estava certo e errado. Isso me ajudou muito, pois, ele sabia que eu não era louca nem burra, me ensinado tudo o que eu precisava saber para não deixar os outros falharem.
Heitor, ah, este foi o anjo que estava conosco em todas as horas, todos os dias, em cada detalhe, nas condutas médicas impecáveis. O danado peitava até os chefes de serviço e fazia valer o que sabia e estava correto.
Minhas pacientes eram solidárias e, mesmo tendo largado minha vida profissional por quase um ano, elas me ligavam, me consolavam e me davam forças.
Eu tive que arranjar médico para cada paciente e tive que manter um consultório fechado, com todos os gastos, porém sem nada render, apenas para servir de plantão, a fim de encaminhar as doentes e conseguir, no futuro, reunir estas pacientes de novo.
Mairá, uma paciente que se tornou uma de minhas melhores amigas, estava grávida. Ela é que ia fazer meu “pré-natal” lá nos hospitais, me levando lanchinhos e me dando apoio. O “Pré-Natal” da futura Leila.
No dia em que entrou em trabalho de parto (estava combinado de eu participar), eu e uma equipe estávamos tentando tirar minha mãe de uma parada cardíaca, que foi bem sucedida.
Mairá, aqui, simboliza as várias pessoas que me deram força, me respeitaram e me admiraram. Muitas Mairás estiveram comigo, mais que muita gente da família.
No Ano Novo de 2002 para 2003 minha mãe estava semi-consciente devido à insuficiência renal aguda. Os médicos tentavam evitar que precisasse entrar numa máquina de hemodiálise e não sair mais.
Só que pessoas que poderiam ficar comigo resolveram passar o Reveillon sei lá aonde... A lua foi minha companheira neste Ano Novo e eu chorava baixinho para ninguém ver.
Deste dia até sua morte, se passaram muitos meses, com reinternações e muito sofrimento, tanto físico quanto psicológico. Eu sabia que ela iria morrer, e, por isso, teria que me empenhar o tempo que fosse necessário, para lhe oferecer o menor sofrimento possível.
Eu era incansável. Cheguei a ficar setenta e duas horas em pé, sem deitar. Não fazia as unhas – cortava com tesoura, tal qual meus cabelos, em frente a um espelho vagabundo de hospital.
Tive que enfrentar dezenas de médicos imbecis, arrogantes e ignorantes, que não entendiam metade do que eu aprendi com o sofrimento dela.
Lembro agora de uma vez em que um medico num CTI aí, teimou que ela não estava fazendo uma crise de edema agudo de pulmão naquele momento. Eu sabia direitinho como era. Ele sentou no sofá em frente a ela e se negou a medicá-la pra isso, independente de eu estar alertando para o que estava acontecendo. Ele apontou os pezinhos para o chão, com uma prancheta do colo e começou a escrever, olhando de vez em quando para os monitores, até ter certeza com os próprios olhinhos do que eu estava dizendo.
Eu dependia daquela gente. Se estivesse em casa já teria medicado. Estava dentro de um hospital de ponta, com toda a aparelhagem necessária para qualquer intervenção e com um idiota tomando conta dela. Eu parecia uma leoa naquele lugar.
Aí, foi um horror, um horror, nem conto. Minha mãe teve a maior crise respiratória de sua vida.
Eles tiveram que me aturar por muito tempo, mas eu aturei muito mais daquela gente.
Um dia, o chefe do CTI me chamou para fazer perguntas e me ameaçar a não entrar mais naquele CTI, pois eu estava atrapalhando.
Eu desfilei para aquele cara um rosário de irregularidades que eu presenciei e que merecia um processo para cada uma.
Se não fosse minha interferência, com certeza, minha mãe teria morrido em várias ocasiões. Mesmo aos cuidados de várias pessoas, ela teria sofrido muito mais que sofreu, tanto no corpo, quanto na mente.
Conheci muita gente boa, dentre médicos, enfermeiras e auxiliares, mas, também, vi enfermeira formada em faculdade ousando colocar comadre cagada em baixo de minha mãe, só porque tinha nojo ou preguiça de limpá-la – talvez até não tivesse noção de higiene.
E não tinha nenhum pudor em ser grosseira e desaforada. Era o desespero que me dava forças e me fazia ir em frente, a despeito do cansaço e das tragédias que se sucediam.
Até que ela teve que internar para não mais voltar. Eu sabia que era a última internação. O tumor estava obstruindo seu estômago e o coração não aguentava mais.
Nesta época, eu estava em total conflito com as pessoas que moravam comigo, ditas da família... Eu me sentia sozinha, mas, forte, porque sabia muito bem o que fazia e porque fazia. Mas, eu sabia que tudo ia passar e eu tinha que passar por aquele inferno em função de minha mãe.
Até que chegou o dia, lá no CTI: Ela me olhou e falou que estava tendo uma dor horrível no peito – seu coração falia. Era irremediável e a equipe - graças a Deus, uma equipe maravilhosa de médicos, agora num CTI muito legal, do Dr. Yvo Perrone, agiu rapidamente.
Era preciso sedá-la para parar seu sofrimento. Qualquer tentativa de reversão seria heróica e cruel, sem o menor propósito médico ou religioso. Apenas sedá-la, parar com todos os tratamentos e a deixar morrer em paz.
Fora decidido numa junta médica e com a minha permissão, o que teria que ser feito. Ela se debatia com as enfermeiras, reclamando que queria sentar e me olhou com aquele olhar de cachorro abandonado, me dizendo: “Leilinha, me tira esta dor. Que dia horrível”.
Eu me abaixei ao seu ouvido e avisei: “Mãe, a gente vai te dar um remedinho que vai passar totalmente sua dor. Eu te amo.”
Ela me respondeu que me amava muito, mais do que eu poderia imaginar.
Não aguentei ver. Saí e deixei os médicos atuarem: sedar e entubar para oxigenação mecânica. Ela ainda durou dois dias sem qualquer tratamento, sem alimentação, sem nada, apenas oxigenando e hidratando, com monitores e tubos em vários lugares do corpo. As auxiliares faziam a higiene no leito e eu trocava, em vão, os curativos. Andava pra lá e pra cá, esperando a morte que não vinha.
As horas mais amargas de toda a minha vida, até então. Eu pedia a Deus que a levasse logo. O meu papel estava terminado e eu queria descansar.
Eu pensava o tempo todo para onde iria a sua alma, que estava abandonando aquele corpinho magro. Então, eu vi o monitor mostrar os últimos batimentos de seu coração. Eu não olhava para ela, apenas me dava conta que sua alma já tinha ido. Era hora de desligar as máquinas.
Eu ouvia uma música na minha cabeça o tempo todo, que eu escutei muito durante minha vida. Aquela música estava me incomodando - um fado que ela gostava de cantar.
Minha mãe morreu em 9 de julho de 2003. Eu não fui ao enterro. Fui pra casa, dormi muito, descansei e comecei a resolver as coisas pendentes do que tinha sobrado da minha vida.
Anos de sono acumulado em uma só noite me pediam recompensa.
No dia seguinte, eu comecei a arrumar meus trapos e larguei tudo pra trás. Fui viver sozinha, mas em paz.
Uma semana depois, nas coisas dela, eu achei uma cartinha que ela tinha escrito. Falava assim:
“Hoje morre a Lola! Sabe quem era? Talvez ninguém. Morreu pobre e triste e deixa uma filha idolatrada, que se chama Leila. Ela vai sofrer porque perdeu o maior bem – o amor de mãe.
Esta voz sentida e quente, que a terra disse adeus. Parti pra sempre, vencida, deixando a vida que me fez chorar”.
Logo abaixo, ela copiou exatamente a letra que eu lembrara na hora de sua morte:
“É por vontade de Deus que vivo nesta ansiedade.
Que estranha forma de vida tem este meu coração.
Coração independente, coração que não comando, eu não te acompanho mais. Pára, deixa de bater”.
Agora o meu corpo está todo doído, como se eu estivesse com uma enorme febre. Não consigo mais teclar.
Outra hora eu transcrevo para o meu computador a carta que eu fiz para ela horas antes de sua morte.
Vou ver TV...
Leila Marinho Lage
Outubro de 2005