SEMPRE O IRREVELADO

(para a Ligia Lacerda, preciosa)

Em primeiro lugar agradeço, penhorado, o vocativo ao meu nome na tua crônica REVELAÇÃO E SEUS MEDOS, em http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/764809 .

Realmente, de tudo o que conheço de tua lavra, este é o melhor exercício. O mais denso, o mais solto em palavra, o mais profundo no necessário mergulho na dimensão humana.

Tens toda razão, ao examinar o mérito das eventuais revelações pessoais: "... Nosso interior é território inexplorado, cheio de tesouros esperando ser descoberto." É de extraordinária lucidez este lapidar dado. Aliás, se não foras 'poeta', dificilmente poderias cinzelar algo tão bem posto, porque mergulhas no alter ego.

Claro que tens uma postura lírica, romântica, até neste exame. Mas este é o teu psicológico, esperançoso de achados e sempre tocado de perdidos.

E como querer que os nossos afetos nos descubram, se estes dons não são encontradiços no lugar comum da vida?

E como não validar o passar dos dias, neste plano o sofrimento, se este é o substrato psíquico que nos toca mais fundamente, a ponto de não sermos somente ‘sofrentes’, mas, também ‘fingidores’, como queria Fernando Pessoa em seu memorável AUTOPSICOGRAFIA?

É do humano as assertivas de certo e errado, mas o Altíssimo sabe-nos precários. É preciso coragem pra contar a nossa história.

Os "nossos" são sempre possessos de afeição e nos querem para o dia-a-dia, não para a eternidade. É nela que mora a revelação. E pra isso até Deus necessita de tempo. Revelemo-nos, todos, em sabedoria.

Há deuses demais pra nos pensarmos em comunhão com o Alto!

– Do livro CONFESSIONÁRIO – Diálogos entre a Prosa e a Poesia, 2006 / 2007.

http://www.recantodasletras.com.br/cartas/767878