O SELO MEMORIAL

Coronel Dirceu Soares Pereira, meu amigo de mais de 60 anos!

Talvez nem possas avaliar devidamente, porque o maior beneficiário sou eu e os meus alter egos, mas sei que a Poética, a "lucidez enternecida", segundo o conceitual do sábio rio-grandense Armindo Trevisan, te leva, magnanimamente, a intuir o quanto a interlocução serve de estímulo ao se ajoujar aos meus textinhos de poeta de aldeia e permite algo que antes não acontecia: a conversa desairosa, franca, com o leitor, ainda que ocorram ao alcance do público virtual.

E mais: um veterano receptor de mesma faixa etária. Teus comentários pontuais são preciosos para o meu aperfeiçoamento e os consequentes efeitos para atingir o formato definitivo da peça textual lavrada; não esquecendo, por igual importância, os intertextos decorrentes do processo dialético das palavras: seus significantes e significados. Por todo este elenco da condenação ao pensar, sou-te muito grato.

Espero merecer sempre essa atenção traduzida em gestos e palavras que rememoram e auxiliam a melhorar o texto. No mais, assim vamos alimentando a nossa sexagenária amizade. Parece mentira, fizemos nossa carreira tão distanciados um do outro, somente agora é que chegamos aos laivos despretensiosos de confidencialidade.

O Curso de Formação de Oficiais da BM, em nós, foi muito mais além do que o preparo profissional: abriu os portais de vivências aos meninos interioranos. Por esta razão de alta relevância também sou agradecido a ti, colega de banco escolar descobrindo os singelos mistérios do conjunto de valores intelectuais que honrariam a nossa vida policial militar.

Sobre os professores, civis e militares, que nos formaram no CFO da Brigada Militar, não há como deixar de destacar: a eles devemos tudo o que somos e construímos, por ofício e imantação psicoemocional. Tivemos tantas figuras que serviram (e ainda servem) de exemplo, que estão entranhados em nosso sangue. Nós somos eles sob nova roupagem, mas os brios são de indiscutível similitude. Continuamos a sacralizar a saga histórica do gaúcho fardado.

Lembro, saudoso, da canção altaneira louvando os primeiros passos – cadenciados – de caserna, às sete da matina, cotidianamente: " C.I.M. da força no seio..." e lá se ia o Corpo de Cadetes...

E relembro o verso de Antonio Machado, poeta andaluz: "Caminante, no hay camino, se hace camino al andar...".

Que o Absoluto te proteja e cuide bem de tua rica verve de poeta-leitor. Acho que estou ficando velho, o tempo se me volta mais fácil, sempre recheado de lembranças. Que nem vinho maduro ou sovéu bem sovado, competente pra laçar espíritos desgarrados...

Com o selo memorial de minha amizade, o poetinha JM.

MONCKS, Joaquim. O CAOS MORDE A PALAVRA. Obra inédita em livro solo, 2022.

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