CRIANDO CONSCIÊNCIA POPULAR

Transcrevo, na íntegra, ofício de minha lavra, quando titular da Delegacia de Vigilância e Proteção de Menores de Goiânia, endereçado a um parlamentar municipal, corroborando o seu nobre projeto em prol dos deficientes físicos e do direito à vida.

Li, com muita alegria, em O Popular, matéria sobre o projeto de lei de sua autoria que trata da feitura de rampas nas ruas e logradouros públicos para acesso aos deficientes físicos.

Afinal, um parlamentar municipal encampa tão digna bandeira, pois pernas têm, apenas, a simples função de andar, enquanto o cérebro é o comando, é a vida, é o progresso.

Quantas vezes assistimos de cátedra a essa sociedade, a essa cúpula das grandes empresas estatais e até de nível nacional deceparem grandes cabeças com aposentadorias, simplesmente por causa de uma disfunção locomotora dos membros inferiores.

Na qualidade de delegada titular da Delegacia de Vigilância e Proteção de Menores de Goiânia, e deambulando numa cadeira de rodas, posso afirmar que não há quaisquer dificuldades para o desempenho de minha função, a não ser quando enfrento grandes escadarias de prédios públicos, o que não me arrefece, pois, se não houvesse desafios não haveria méritos e os trapezistas não teriam espectadores.

Assim, iremos criando consciência popular, e quem sabe, no futuro, compreenderemos que a deficiência física é fruto do próprio progresso, do avanço tecnológico, fazendo-nos irmãos de verdade com acesso e aceitabilidade em todos os lugares.

Precisamos mudar o porvir! Permitir que a sociedade reconheça que somos parte do sistema socioeconômico e político do País. Isso conseguiremos com esse primeiro degrau que o nobre parlamentar acaba de legar-nos. Depois, com a coragem, a ousadia, a garra que, geralmente, substituem a falta ou a disfunção de órgãos locomotores.

Se um deficiente físico de cadeira de rodas pode ser até Delegado de Polícia, o que mais ele não poderá exercer?

A sociedade, justamente pela falta de acesso ambiental e arquitetônico que isolam o deficiente, foi conduzida a vê-lo sempre como elemento incapaz, inválido e até relacionar cadeira de rodas à mendicância. Precisamos mudar tal consciência! Precisamos ir à luta nem que seja para legar aos que virão um lugar mais ao sol ou, pelo menos, o vital direito de emprestar ao País a sua cota-participação de trabalho.

Costumo dizer que a mente não está nos pés e o querer é poder. Assim, mesmo com algumas disfunções locomotoras, visuais ou auditivas, a vida é possível e o trabalho é digno dentro da capacitação.

O deficiente não precisa da caridade pública! Ela é vergonhosa para ele e para o País. Ele precisa de oportunidades, acessibilidade, meios para qualificar-se, evitando o subemprego, uma vez que as suas despesas primárias são inadiavelmente majoradas.

Assim, Senhor Ageu Cavalcante, o seu projeto de lei apresenta nímia contextura humana e merece elogios, pois, se aprovado, marcará a história de Goiás, incentivando-o a conquistar novos e maiores espaços para o deficiente, corroborando-lhe o potencial e a dignidade.

Na oportunidade, apresento-lhe protestos de estima, consideração e muito respeito.

(Assinado) Dra. Genaura Maria da Costa Tormin. Delegada de Polícia Titular da Delegacia de Vigilância e Proteção de Menores.

Genaura Tormin
Enviado por Genaura Tormin em 26/11/2005
Reeditado em 26/11/2005
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