Excelentíssimo Senhor Ministro Luis Roberto Barroso

 

     Todo brasileiro, inclusive Vossa Excelência, já nasce pagando o famigerado imposto embutido até do ar que respira.

     Vossa Excelência nem imagina o sufoco que passo, como cidadão de classe média baixa, para pagar as contas de luz e água, comprar o arroz, leite, feijão, o botijão de gás... Carne nem pensar, Excelência!, a gente vai mesmo de ovo frito.

     Estou ciente de que Vossa Excelência jamais irá passar por essa situação precária. Graças a sua inteligência e por mérito próprio, o senhor chegou aonde chegou e hoje recebe um salário mensal de 49 mil reais, mais auxílio-moradia, auxílio-alimentação, com direito a caviar, vinho importado e lagosta, passagens aéreas nacionais e internacionais, despesas médicas, gratificação natalina, segurança armada, carro  blindado, motorista particular e combustível, o que é  justo pela sua dedicação na defesa da Constituição.

     Bastante intrigado por eu ser um perdedor nato, saí indagando por aí porque trabalho feito um burro de carga e não me sobra absolutamente nada no final do mês. Fui informado, pasme, senhor ministro, de que em  tudo que ganho e compro tenho de pagar o imposto embutido, bem salgado, que é para manter os três poderes funcionando harmoniosamente e com todas  as regalias em Brasília, inclusive as suas.

     Eu juro, Excelência, que me assustei, jamais imaginei que iria me sacrificar a vida toda, bancando com  meu parco salário as mordomias de todos integrantes dos três poderes, mas lá no fundo do meu coração e cheio de orgulho me senti um verdadeiro patriota por sustentar todos vocês, mesmo na certeza de ser taxado de otário, estorvo e babaca por essa casta burocrática que nos domina. Só para esclarecer, eu jamais fui militante partidário ou fanático político, são todos  farinha do mesmo saco. Voto pelo dever cívico, não acredito em políticos.

     O Ministro pode me chamar de otário, babaca, idiota, ou qualquer outro adjetivo que aceitarei resignado, porque na realidade sou tudo isso no conceito dos senhores, representantes dos três poderes.

     Como sou um perdedor assumido, meu caro Barroso, o senhor tem toda autoridade para dirigir-se aos gritos a esse pé rapado que vos escreve: "perdeu otário", "perdeu babaca". O magistrado pode me chamar do que bem entender. Agora, vir com esse linguajar de bandido, "perdeu mané", aí fica dificil de engolir. "Mané", meu respeitado Ministro, é o ilustríssimo marido da mãe de Vossa Excelência!

 

Autor Benedito Morais de Carvalho (Benê)