Perdão

Querida eu do passado, perdão é uma dadiva cedida a todos, mas merecimento do mesmo é de poucos!

Você mais do que ninguém, merece o meu perdão, porque se não fosse por você eu não estaria aqui.

Demorei muito, mas entendi toda sua força, mesmo na sua fraqueza.

Certo que não podemos voltar ao passado para fazer mudanças e nem avançar no tempo pra adquirir experiencias.

Vou te perdoar por receber culpas que não te pertenciam, mas mesmo assim você não as devolveu, por permitir matarem sonhos que teve, mas mesmo assim não os enterrou, por deixar tirarem a liberdade da sua alma, mas mesmo assim você cuidou pra que as asas não perdessem suas penas, por colocarem sobre meus ombros ainda pequenos culpas que jamais poderia carregar, mas você se segurou em suas pernas frágeis e caminhou, pelas lagrimas derramadas no travesseiro, por medo, desamparo e desespero e não gritou.

Eu digo que te perdoo, é poque eu mesma te culpei por tudo, te chamei de fraca, sem condição de se reerguer, te culpei pelo medo de ser feliz, porque pra mim isso era um crime, fui acostumada a não sorrir.

-Tá rindo pra quem?

_Tá rindo do que?

_Fecha essa boca, não sou dentista, pra tá vendo esses dentes!

Hoje eu consegui entender, que foi podada e moldada pra caber dentro de uma caixa de chumbo.

Perdoar qualquer pessoa é a tarefa mais exaustiva que já me propus a fazer, por isso muitas pessoas preferem manter a magoa e a raiva. Mas perdoar a si mesmo é um processo quase que impossível , é como estar na beirada de um penhasco, e ainda assim você precisa olhar pra dentro dele, porque tudo que você precisa lidar está no fundo daquele penhasco, medos, sonhos, dores, desamores, amores, culpas, tudo que te levou ao estado de inércia, está lá e isso assusta tanto que chega ao ponto de faltar o ar, tremedeira, dores terríveis na alma que reflete no corpo, boca seca e os olhos embaçam.

Por muitos anos andei com medo, como se estivesse apenas respirando, não consigo nem dizer que estava sobrevivendo, que pra isso eu necessitária pelo menos sonhar, mas nem isso eu era capaz.

Então eu te perdoo, me perdoo e nos perdoamos mutuamente, assim vou tirando cada sentimento vagarosamente de dentro desse abismo que nos jogaram.

Estou aos pouco procurando meu lugar nesta vastidão de sentimento, hora bom, hora ruim.

Não sinto pena e nem dó meu passado, mas tenho certeza que estou buscando maneiras de me tornar cada dia mais forte , pra me defender neste futuro não muito distante.

Hoje olho pra criança que fui, com mais carinho e menos culpa, olho para jovem que fui com mais compreensão e menos cobrança, ainda com um puco de dificuldade, mas com a esperança de que dias melhores virão.

Aprendi que não posso me cobrar a amar o tempo todo , mas sim a ser amada, a roupa moldada a duras dores, não me serve mais, o sapato apertado da gratidão continua sem questionamento não cabem mais nos meu pés

A caixa de chumbo, não me cabe mais, eu cresci, tenho raiz forte e tronco que não enverga com a tempestade.

Em algum lugar desse presente, que em breve se tornará passado, vou deixar o Eu do passado repousando calmamente como uma senhorinha, numa cadeira de balço tricotando e apreciando o por do sol e como em um mundo diferente, vou estar no topo da montanha olhando o nascer da minha manhã ensolarada, ( sei lá, não custa nada sonhar!)

Karina Freitas
Enviado por Karina Freitas em 06/11/2022
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