Carta de despedida

Eu a deixo ir sem perguntas, sem pedidos de abrigo, sem amarras, como quando chegaste, num leve bailado, como a justa e perfeita resposta às preces que balbuciei a vida toda...

Deixo-te ir sim, mas sei que estarei n'algum sorriso teu, quando no céu as estrelas piscarem e isso te fizer lembrar um beijo tonto que trocamos tantas vezes em que mal nos lembrávamos dos nossos próprios nomes e éramos apenas "uma borboleta e uma flor".

E tu ficas nas paredes do meu quarto e nas do meu corpo. Ficas na flor de meus sentidos, na orla do meu vestido, nos versos da minha prosa, vez por outra a cantar uma saudade boa.

Irão passar os dias, não sei quantas serão as luas em que estarás intangível, impalpável. Nelas todas não poderás pretender-te inalcançável, então te peço uma coisa: não sufoque uma lembrança minha que venha escondida numa música, numa brisa, um filme.

Não resista a uma saudade minha e deixe que um sorriso beije teus lábios por mim e deixe que teus olhos brindem o mundo com uma centelha.

Me veja nas flores que porventura cruzem teu caminho e deixe que o perfume delas invada vez por outra os teus sentidos e que o vento brinque por baixo de tuas vestes e então tire uma flor e a ponha em teus cabelos.

Então estarei contigo.