19 de Outubro, 2022

Hoje a vi no ponto de ônibus e antes de reconhecê-la tive o pensamento "nossa que mulher bonita". A medida que me aproximei fui me dando conta de quem estava ali, parada. Tive um sentimento espontâneo de orgulho, misturado com raiva. Não sei o porquê, mas acredito que é como fui ensinada a reagir a alguém que não me dou bem. Sei que não fui muito boa com ela, fui imatura e coloquei homens a frente de nossa amizade, que um dia me fez tão bem. Sempre àdmirei, a considerava a pessoa mais incrível que já conheci. Uma pessoa alegre e divertida que, apesar dos problemas, sempre tentava dar o seu melhor e seguir em frente. Eu a amei como amiga, e queria que ela continuasse na minha vida por um longo tempo, mas infelizmente não fizemos bem uma para outra. Me senti traída por ela, porque ela trocou fotos com alguém que eu me relacionava há 6 anos. Apesar de na época o relacionamento que eu tinha com ele fosse algo continha essas coisas, coisas que eu achava que era o certo porque ele dizia que sim, eu não esperava que ela trocasse aquele tipo de coisa com ele. Eu não fiquei triste por causa dele e sim porque eu não esperava isso de dela. Na hora eu não reagi de forma estranha à situação, muitas vezes eu mostro às pessoas uma personalidade que não vá fazer com que elas se sintam mal em relação ao que fizeram comigo. Lembro que um dia, em uma social naquela casa, volacê disse, em meio a bebedeira e conversas descontraídas, que por vezes parecia que eu não tinha personalidade,  que sempre fazia e dizia o que ele queria. Naquele dia eu fingi que aquilo não foi nada demais, mas saí do ambiente e chorei no banheiro falando "eu sou, eu sou eu, eu sou eu" pois aquilo foi ruim para mim. Também me senti traída quando ela escolheu ele ao invés de nossa amizade, quando ela me excluiu como se nunca tivéssemos sido amigas ou bebido da mesma taça, compartilhado traumas e alegrias. Não que fosse necessário seguir um lado, mas esperava que fosse o meu. Aquilo me deixou muito mal. Eu estava na minha pior fase e esperava ter alguém pra poder conversar, mas todos foram embora. Não sei se sou eu que faço isso, se sou eu que afasto as pessoas por medo de uma relação mais profunda, medo de ter uma história ou porque sou uma pessoa difícil. Mas hoje me senti feliz, quando ele a viu no ponto de ônibus e foi em outra direção. Tenho certeza que se ela tivesse ficado ao meu lado como uma verdadeira amiga isso nunca teria acontecido.  Eu nunca teria desviado dela ou fingido que a não conhecia. Todos vão para lados opostos da vida e com nós mão foi diferente.

A última vez que nos falamos eu disse coisas que que foram desagradáveis, mas eu tinha razão em partes, pois já havia passado por uma situação com ela e imaginei que seria o que iria acontecer novamente.  Me precipitei. Depois disso, uns cinco meses depois, sonhei que a pedia desculpas. Hoje ao vê-la quis falar, mas não sabia se seria adequado. Não sabia e nem sei se ela se sentia do mesmo modo.

Nossa família perpetua um ódio entre eles que, se não quebrarmos o ciclo, isso irá se repetir por muito tempo.

Eu espero de verdade que ela esteja bem e não estou tentando uma reaproximação, pois sei que não é algo a se cogitar, ela já  deixou isso claro. Não estou no meu melhor momento para amizades e nem sei se um dia estarei.  Queria poder contar a ela sobre tudo, mas infelizmente não posso e nem vou. Estou tentando seguir em frente depois de tanto tempo, mas às vezes me lembro da vida que eu tinha, da facilidade e dos amigos por causa da situação e com quem eu vivia. Mas eu não era feliz e sinto que estou um pouco melhor agora...

Não muito melhor do que eu queria estar, mas tudo tem seu tempo.

Às vezes imagino que ela tinha razão, ao dizer que não tenho personalidade.  Sempre estou estou alguém e sempre por muito tempo. Faço relacionamentos durar porque não se se conseguiria lidar comigo sem ter que me preocupar com os desejos de outra pessoa. Não sei se tenho personalidade.

Ele me fez bem por um tempo... sabia que meu escritor favorito era o bukowski e acabou sendo o dele também. Uma vez peguei um poema dos Textos Cruéis Demais e mudei algumas coisas, nem sei sei qual é, e dei a ele no dia do nosso aniversário de namoro. Ele chorou e eu fiquei pensando se ele sabia que eu não escrevi aquilo. Eu não o amava. Nunca o amei. Tinha um certo apreço quando fomos morar juntos, mas passou rapidamente.  Deve ter sido pelo modo como comecei  a ver as coisas de verdade. Que ele me manipulava e até hoje acho que eu sou a errada. Mesmo sabendo que ele fez um aborto em mim e me fez acreditar que aquilo era escolha minha, mas na verdade era a dele, porque ele não queria filhos. E hoje em dia ele tem um. Ele não queria comigo ou ele não conseguiu manipular ela da mesma forma e hoje vive por convenção social? Não sei.  Mas ele me tirou tudo. Minha virgindade, minha casa, minha autoestima, minha personalidade, minhas amizades, a família que ele me deu. Hoje tento recuperar os sete anos que perdi e muitas vezes o nome dele fica se repetindo na minha cabeça, como se fosse uma forma de me lembrar que a cicatriz vai demorar e que eu talvez nunca mais consiga ser eu.