GLÓRIA
GLÓRIA
Querida neta Gloria!
Seu batismo homenageia a sua bisavó. Nome da minha mãe.
Ela foi uma professora primária, dos tempos em que se lecionava em Colégio Particular, mas em classe reservada ao Estado.
Entretanto no tempo da minha avó, estudava-se em casas de família. Reuniam-se os alunos numa casa e o Estado pagava aos proprietários das casas e aos professores para ensinarem os alunos.
Quando minha mãe se casou e vieram os meus irmãos, ela deu aula primaria aos quatro primeiros filhos. Os outros cinco estudaram no Grupo Escolar, porque os tempos estavam mudados.
A Mamãe ensinava também religião para todos nós e nos preparávamos para a primeira Eucaristia.
Era muito severa e tinha austeridade sobre nós e seus alunos.
Um dia seu avô viu um encanador que arrumava o encanamento de casa, e chamando a mãe dele de professora. Depois ela contou que ele foi seu aluno.
Muitos outros alunos foram durante a sua vida, pessoas de seu continuo relacionamento, pois havia um ponto de taxi próximo da casa dela, cujo motorista foi seu aluno, serviu-a por muitos anos. Havia um jornaleiro que tinha banca de jornal numa das esquinas da Paulista com a Brigadeiro Luiz Antônio; em cuja esquina havia uma estatua de um Índio com arco e flecha em punho, de saudosa lembrança da minha infância. Um dos filhos do jornaleiro, que depois herdou a banca, era seu aluno.
Ela foi, entre outros afazeres, uma ama de leite para muitas crianças contemporâneas minhas e dos meus irmãos. Haja vista que Frei Tomé, quem celebrou o nosso casamento era meu irmão de leite, pois já não tenho noticias dele se ainda é vivo.
Sua bisavó não sabia ficar parada, inativa, sempre arranjou cursos para preencher seu tempo. Foi uma doceira artística, fazia bolos ornamentais para os aniversários dos filhos, e o mais comentados deles foi à Casa da Branca de Neve feito para o aniversario da sua tia avó Maria Cecília.
Já idosa, fez curso de pintura em porcelana, e pintou um aparelho completo de jantar. Era uma eximia tricoteara, nunca faltou agasalho a nenhum dos filhos, netos, amigos e ainda distribuía em creches e para no Amparo Maternal, o produto do trabalho que ela, as irmãs, as primas, sobrinhas e amigas elaboravam na casa de minhas tias.
O mais curioso episodio da história de sua bisavó, foi o aproveitamento da calda do vestido de noiva dela, para confeccionar um camisolão para batizar seus filhos, afilhados, netos, bisnetos e crianças afilhadas dos seus avôs e dos seus tios.
Até hoje existe esta secular vestimenta sagrada e consagrada por tantas crianças.
Acredite se quiser. Sua bisavó, não pegou nenhum filho no colo enquanto pagão, por isso todos eles foram batizados imediatamente ao nascimento.
E para finalizar esta resumida biografia, saiba mais desta história da carochinha. Seus bisavós namoravam por bilhetes e diários trocados, e, quando a família soube que iriam ficar noivos, ficaram pasmos em querer saber quem era o Noivo, só então foi informado tratar-se do João irmão da Carolina sua colega da Escola Normal, que residia no inicio da mesma Rua Fausto Ferraz, mas que não assistiu este o casamento porque foi ser freira beneditina na Abadia de Santa Maria, (onde hoje esta edificado o Hotel Maksoud Plaza na Rua São Carlos do Pinhal), num longo claustro aonde veio a falecer no cargo de Irmã Prioresa, no atual convento em que dedicou sua saúde em prol da construção deste Mosteiro. Hoje se encontra sepultada no cemitério do próprio convento. Isto não é uma Gloria?
19/02/2010