Uma carta que você não lerá
Eu te procuraria entre mil poesias
Se você pudesse voltar.
Eu te escreveria na minha poesia
Se por aquela porta você quisesse entrar.
O arrepio me sobe,
A barriga esfria,
A garganta fecha
Duma sede sombria.
Engulo seco cada saliva tua
Só na memória,
Só na memória
Parda, fria e crua.
Eu te procuraria entre mil poesias
Se você pudesse voltar.
Eu te escreveria na minha poesia
Se da porta pra dentro,
Você quisesse ficar.
Mas você me rasgou em mil pedaços
De uma folha que o outono soltou.
Eu não te escuto mais,
Senão na lembrança vazia
Que você deixou.
Você me arrancou como folha rasurada
Agora sou livre contra a vontade.
Não sou mais a letra favorita
Da tua composição.
Eu não te escuto mais
Desde o dia em que teu grito
Arrebentou o tímpano do meu coração.
Você foi como um tufão
Passou, me jogou aos céus
Arrancou meus telhados
Me atirou ao chão.
Enquanto a tua boca me dizia
Que eu não precisava partir,
Mas teu gesto me dizia
Que você já não estava mais aqui.
Eu nunca mais serei o mesmo ser
Eu nunca mais serei.
E por mais que eu tenha sido boa,
Você nunca saberá
O quão melhor eu me tornei.