Uma carta que você não lerá

Eu te procuraria entre mil poesias

Se você pudesse voltar.

Eu te escreveria na minha poesia

Se por aquela porta você quisesse entrar.

O arrepio me sobe,

A barriga esfria,

A garganta fecha

Duma sede sombria.

Engulo seco cada saliva tua

Só na memória,

Só na memória

Parda, fria e crua.

Eu te procuraria entre mil poesias

Se você pudesse voltar.

Eu te escreveria na minha poesia

Se da porta pra dentro,

Você quisesse ficar.

Mas você me rasgou em mil pedaços

De uma folha que o outono soltou.

Eu não te escuto mais,

Senão na lembrança vazia

Que você deixou.

Você me arrancou como folha rasurada

Agora sou livre contra a vontade.

Não sou mais a letra favorita

Da tua composição.

Eu não te escuto mais

Desde o dia em que teu grito

Arrebentou o tímpano do meu coração.

Você foi como um tufão

Passou, me jogou aos céus

Arrancou meus telhados

Me atirou ao chão.

Enquanto a tua boca me dizia

Que eu não precisava partir,

Mas teu gesto me dizia

Que você já não estava mais aqui.

Eu nunca mais serei o mesmo ser

Eu nunca mais serei.

E por mais que eu tenha sido boa,

Você nunca saberá

O quão melhor eu me tornei.

Aflora la Fora
Enviado por Aflora la Fora em 16/10/2022
Reeditado em 17/10/2022
Código do texto: T7628566
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