A FLOR OUTONAL E O GENUÍNO AMAR

Obrigado, manos, irmãos de sangue, pelos votos de aniversário. Estamos aqui, de joelhos, cultivando os canteiros da flor do viver, na magnânima graça do Absoluto.

Caminho, a partir de 29 da última setembrina primavera, no mesmo solerte trajeto, com a firme intenção de vir a completar os 77 outonos, cumprindo tempo para a finitude.

Parece mentira, passou tudo tão rápido, que ainda pouco sei (de mim) como criatura única jogada no mundo. Nunca soube, a rigor, o que é estar sozinho. Sou um fio da raizinha coletiva. Sempre tive a mão amiga, caridosa, carinhosa, condescendente para com meus erros e tropeços.

Amo vocês, assim, na singeleza do orvalho sobre a flor. Enfim, somos ovos postados pela infantil cegonha dos contos de brilhar os olhinhos de espanto. Beijos, abraços para todos e todas.

Jamais esqueço de vocês, porque somos a parceria que o véio Monckão e nossa lutadora Terezinha de Jesus, a mãe, colocou no ninho original para caminharmos nessa estropiada estrada terrena.

Caminho em direção à inexorável finitude com a mesma leveza, galhardia e serenidade dos pássaros que rondam a minha pobre cabeça, sempre à busca dos sonhos de saudar amores e servir como elo entre os homens e o Cristo.

Hosanas, ainda estamos vivos! Hígidos na mesma esperança do berço genuíno, imaculados.

Saudade, muita, do que fomos, do que somos e daqueles que nos mostraram o itinerário, e ainda, por todo o sempre, nos orientam da outra margem, através de suas presenças espirituais.

As preces de hoje são para pedir, rogar, que perdoem minha ausência física, presencial, e, por vezes, até a volátil e volúvel virtualidade, tão ao gosto e de internalizada utilização ritualística pela humanoide modernidade.

Porém, não pensem que a imediatidade internética possa suprir a quentura do amasso junto ao coração pulsante. Esta carta, que pretendo um ato amoroso, é apenas um peixe que faz os costumeiros malabarismos no imenso curso d'água eletrônico. Tem igual volúpia, desejo e surpresas. Nele farei, no futuro andar diuturno dos 77, a ginástica de pulsantes neurônios.

Contudo, o amor de infância e suas inocências possam perdoar meus grandes e pequenos pecados em seus bondosos corações. Estes tão humanos deslizes também são pássaros que tecem o canto do estarmos aqui, como quer o amar do Grande Criador.

MONCKS, Joaquim. A BABA DAS VIVÊNCIAS. Obra inédita, 2022.

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