É quase outono no hemisfério norte

20 de setembro de 2022

Dileto amigo,

Tivesse tua mãe esperado uns dias mais,

terias vindo junto ao outono.

Vieste antes, no entanto,

como um arauto da estação mais bela!

Menino amado, equinócio de setembro,

trouxeste nos olhos o verde esmaecido das folhas que caem;

na voz, a calma da brisa vespertina;

nos gestos, a elegância de uma estação contida, não gélida como o inverno, mas distante dos sufocantes verões.

És outono, por natureza!

Indiferente às agitações primaveris,

és bem capaz de julgar as flores como lugares-comuns, imagem desgastada dos poetas.

Preferes a hora do ocaso, o crepúsculo, a seminudez das árvores, a rosa decrépita, o café sem açúcar, o amor sem sobressaltos.

E eu, criatura dos trópicos, habituada ao calor, ao viço verdejante das matas, ao sol a pino, ao amor primitivo dos animais, hesito diante de ti.

Em vão, desejo conter-me e esconder a vontade de todo dia dizer-te coisas bonitas, de desgastar ainda mais as figuras dos poetas, de confessar toda hora meu apreço e meu desejo de estar perto de ti, apesar dos prenúncios hibernais que varrem teu espírito sem aviso prévio.

Celebra teu dia, menino!

Exibe tua beleza nas ruas, porque as árvores, que se despem, não podem competir contigo.

Hoje, em que completas 42 anos, desejo-te que teus melhores dias ainda estejam por vir.

Que sorte dos olhos que se cruzarem com os teus nessas ruas cinzentas de Bucareste!

Que inveja sinto deles e das mãos que ousarem se entrelaçar  nas tuas!

Os parabéns são teus, mas a sorte é toda minha. Distante, sim, mas perto.

Não pode estar tão longe quem comigo anda sempre em pensamento e coração.

A declaração final faz-se desnecessária, posto que facilmente se adivinha.

Feliz Aniversário!

E que o outono* seja muito bem-vindo...

*No hemisfério norte. Aqui, celebra-se, em breve, a primavera.