O capelo
Nada iria impedi-la ....
Agora eram os instantes finais da cerimônia.
Ansiosa e emocionada ela segurava o capelo nas mãos.
Jogaria tão alto quanto conseguisse, era o sabor da vitória!!!!
Lá atrás, ouvirá muitas Vezes:
Você não vai conseguir!
Quando se formar estará velha, não arrumará emprego.
Bem mais atrás o primeiro marido dizia:
Você nunca será nada e ria da sua cara quando a menina se recolhia na sua insignificância e chorava baixinho.
Lá dentro de sua alma ela dizia a si mesma: " Eu vou conseguir"
Aos 34 anos já era avó e resolveu que essa seria sua hora e decidiu:
Vou ser psicóloga!
Você psicóloga? Alguém falou e replicou:
"Você não tem capacidade pra ser psicóloga, em tom de deboche".
Ela virou a cara e pensou:
"Eu vou conseguir "
Mas não seria tão simples, não tinha terminado o ensino fundamental.
Então quais eram os passos?
Ensino fundamental, ensino médio, vestibular e mais 5 anos e meio de faculdade. .
Hum não seria um jornada simples.
E assim mesmo diante de todos os obstáculos as etapas começaram a se cumprir.
Supletivo do ensino fundamental, mais um ano e meio de supletivo do ensino médio, mas ainda se sentiu insegura, então seis meses de cursinho...
Trabalhava durante o dia e estudava a noite, eram dias corridos, inúmeras matérias... Odiava matemática, afinal pra que estudar matemática na faculdade de psicologia?
Os dias se passaram os anos se passaram , às vezes o sonho parecia tão distante..
Chegou o vestibular, um friozinho na barriga, mãos suadas, mente acelerada, muito difícil dormir. Mas a moça corajosa iria tentar duas faculdade, então pela manhã prestaria uma prova e a tarde em outra.
Ufa isso ia ser meio louco e assim se fez. Um amigo muito prestativo se ofereceu pra ajudar nessa jornada de levá-la a Itatiba e a tarde em Campinas, dois vestibulares em um único dia.
Mas ela estava decidida.
Iria conseguir.
E assim se fez ....tudo muito sério, concentração total e no fim dos dois dias de vestibular a missão estava cumprida. Agora era aguardar.
"Será que vou passar?
Às vezes ficava insegura, 20 anos se passará desde quando tinha parado de estudar aos 14 anos. O marido dizia, mulher que estudava não prestava" e foi proibida de voltar a escola.
Os dias passaram lentos e o resultado demoraria uns dias até que no dia marcado ela correu na banca de jornal e foi para casa achar seu nome na lista de aprovados. Correu os dedos entre uma quantidade enorme de nomes, parecia interminável, mas depois de um tempo que pareceu uma eternidade, seu nome estava lá no trigésimo sétimo lugar em uma faculdade e quadragésimo segundo, na outra. Ela mal conseguia acreditar, passará nas duas! Isso era demais.
A alegria tomou conta do seu ser .
Pulava de alegria e correu dizer aos amigos e familiares.
Mas como tudo nunca tinha sido fácil em fevereiro de 1991, plano Collor, confiscava todas as contas bancárias do país e o dinheiro reservado para pagar a matrícula e a primeira mensalidade sumiram como num passe de mágica
E agora? Correu tanto e na reta final tudo ia se perder?
Estava desempregada e sem dinheiro. Teria que adiar o sonho. Nessa época existia um sistema telefônico de disque amizade conhecido como 145.
Nas horas de descontração ela gostava de prosear com as pessoas e se formou um grupo que já se encontravam sempre pra conversar e todos ficaram muito felizes com o resultado do vestibular, mas agora tudo estava perdido, contou aos amigos telefônicos.
E todos ficaram muito tristes.
Ela não ia conseguir. Ninguém tinha dinheiro, o país não tinha dinheiro.
Porém Deus não iria deixar essa moça na mão. Tinha arrumado um serviço talvez conseguisse o dinheiro. Mas era bastante dinheiro.
Um dia voltando do serviço chegou em casa e os filhos comunicaram:
Mãe tem envelope aí pra Sra.
Ela ansiosa abriu e tinha uma quantidade de dinheiro em dólares suficiente para pagar a matrícula e a mensalidade. Alguém do 145 que não se identificou, enviou o dinheiro.. ela não conseguia acreditar. Um bilhete em um buquê de rosas dúzia:
"Rosa vá realizar seu sonho! "
Lágrimas de alegria, felicidade e gratidão molharam seu rosto...
Anos se passaram e ali naquele momento tudo isso passou por sua cabeça, como um filme lembrou ainda que para pagar os estudos vendia lanche no intervalo das aulas.
Os oradores encerraram as homenagens e o capelo estava nas mãos ela não contou pra ninguém que seu sonho era jogar o capelo bem alto.
De repente quando ela percebeu que estava tudo encerrado levantou a mão e jogou o capelo tão alto quanto pode, igual vira nos filmes americanos.
As lágrimas agora era de alegria, abraços calorosos dos amigos e mestres e um dos mestres a abraçou e disse:
"Dou aula há 26 anos nessa faculdade, não conheci ninguém que merecesse esse diploma mais que você "
Era o reconhecimento, era a vitória
Ela conseguira.
Esse era o incrível sabor de vitória.
Novembro de 1997.
Foi para casa naquela noite e dormiu abraçada no diploma. Que felicidade
Obs: Atuo na área de psicologia até os dias de hoje aos 67 anos.
Qualquer pessoa pode acreditar que você não é capaz a única pessoa que não pode acreditar nisso é você.